O amante de lady Chatterley

D. H. Lawrence
Várias edições em Português
Interessante reler O Amante de Lady Chatterley nos dias atuais, livro de David Herbert Lawrence que durante décadas provocou o maior qüiproquó, fazendo parte da galeria dos livros malditos. O autor nasceu em 1885 na aldeia de Eastwood, no Reino Unido, e faleceu em 1930 não tendo visto o seu polêmico livro publicado em sua terra natal. Rotulado de imoral e pornográfico este romance de Lawrence levou 32 anos para vir a lume, sem cortes, numa Inglaterra tipificada pelo tradicionalismo e o conservadorismo, coisas que os geniais Beatles tiveram a coragem de, nos anos 60, dar um pontapé na bunda.

O polêmico livro foi gestado por Lawrence em Toscana, em 1926, quando lá residia. Cidade próxima da Florença de Maquiavel que, como ele, durante muito tempo foi um autor proscrito. O sexo domina os escritos de Lawrence que abandonou a sala de aula, a profissão de professor, para se dedicar inteiramente à literatura, deixando como herança intelectual, além do citado romance, entre outros, O Pavão Branco, Arco Íris e Mulheres Apaixonadas.
Censurada na Inglaterra, a primeira edição do Amante de Lady Chatterley – expurgada das cenas mais picantes – foi publicada na França em 1928, mas pouco tempo depois retirado das livrarias debaixo do jargão da imoralidade, do absurdo, do atentado a moral e aos bons costumes. Mas afinal de contas, o que esse livro tem para provocar tanta ira dos Torquemadas da primeira metade do último século do milênio passado? Para responder a questão é bom situá-lo no contexto de sua época e examinar a natureza da temática que trata.
O romance, escrito uma década depois, passa - se entre 1917 e

O enredo do romance se organiza em torno de um triângulo amoroso, envolvendo Constance Reid, Clifford Chatterley e Oliver Mellors.
Logo após casar-se com Contance o poderoso, rico, frio, calculista e conservador Sir Clifford é convocado para a guerra e dela volta numa cadeira de rodas, inválido e impotente, indo viver com a esposa em sua mansão de Wragby Hall, nas proximidades de suas minas de carvão. Contance, ou seja, Lady Chatterley é um azougue. Ela é o que viria a se chamar de uma mulher de vanguarda, cheia de vida e tesão. A lady perdeu a

Como dinheiro não traz felicidade e a Lady não tem o que fazer naquele monótono fim de mundo e com um marido que não pode satisfazê-la, resta-lhe andar pelo campo, colhendo flores, admirando animais e tomando um chazinho aqui e ali sendo elogiada por puxa-sacos e alcoviteiras. É fatal que em suas andanças, vez por outra, dê de cara com o taciturno guarda-costas, com quem não simpatizou a início. Bola vai, bola vem,

O romance-pesadelo engendrado pela astúcia e a picardia de D. H. Lawrence termina num impasse: enquanto o bucho da Lady vai crescendo resta a ela e a Mellors rogarem aos céus para que ocorra algum milagre e que o drama vivido por eles venha a ter um improvável happy end.
Claro que com um enredo bombástico como este o hoje clássico O Amante de Lady Chatterley só poderia desagradar tanto aos gregos como aos troianos, ou seja: aos conservadores e aos reacionários janotas europeus do início do século. Com seu romance, o professor que largou as aulas para embrenhar-se no mundo das letras, metia a mão em muitas chagas ao mesmo tempo: o sexo como fio condutor, a paixão entre pessoas de classes sociais distintas, a guerra como instrumento de destruição de projetos de vida e a situação da mulher e a dos trabalhadores e as suas respectivas lutas por liberdade.
Aluizio Alves Filho - Revista Achegas
3 Comments:
Acho que o poema abaixo ("Bawdy can be sane" em tradução de José Paulo Paes), do próprio D. H. Lawrence, sintetiza bem o tema da hipocrisia na sociedade inglesa da época:
A indecência pode ser saudável
(D.H. Lawrence - 1885 ~ 1930)
A indecência pode ser normal, saudável;
na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.
E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.
Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
desde que haja troca de sentimento verdadeiro.
Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.
Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim
leva direto a furiosa insanidade.
E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada,
é idiota. Por isso, você tem de escolher.
Espero ter contribuído com o tema, sem necessariamente chocar as mentes ainda puritanas.
Boa e original a análise do romance feita por Aluizio Alves Filho. Como sempre o seu conhecimento multifacetado nos conduz a uma agradável leitura.
Saudações do menino que veio de barca, Nico.
Boa e original a análise do romance feita por Aluizio Alves Filho. Como sempre o seu conhecimento multifacetado nos conduz a uma agradável leitura.
Saudações do menino que veio de barca, Nico.
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