As ondas
Editora N Fronteira
"A vida nos apartará. Mas formamos certos laços. Acabaram nossos anos de infância, da irresponsabilidade. Mas forjamos certos elos. Acima de tudo, herdamos tradições. Mas forjamos certos elos. Acima de tudo, herdamos tradições. Estas lajes são usadas há seiscentos anos. Nestas paredes estão inscritos os nomes de guerreiros, estadistas, alguns poetas infelizes (o meu estará entre estes). Abençoadas as tradições, todas as salvaguardas e limitações! Sou extremamente grato a vós, homens de trajes negros, e a vós, mortos, pelo vosso exemplo, pela proteção; apesar de tudo, porém, o problema permanece. As contradições ainda não foram conciliadas. Flores movem suas cabeças contra a janela. Vejo pássaros selvagens, e instintos mais selvagens do que os mais selvagens pássaros erguem-se do meu selvagem coração. Meus olhos são selvagens: meus lábios, firmemente comprimidos. O pássaro voa; a flor dança; mas eu ouço sempre o embate monótono das ondas; e a besta acorrentada pateia na praia. Pateia sem parar." (Virginia Woolf)
Virginia Woolf foi romancista, crítica literária e ensaísta. Com o seu olhar feminino e transgressor usou uma narrativa que explora o fluxo de consciência, como se fosse monólogo interior e contrapondo com uma narrativa mais linear. No livro As ondas, os seis personagens não interagem, apesar de um mencionar o outro. Contam suas história, impressões e conflitos psicológicos separadamente, como se fossem monólogos fragmentados.
A natureza é um elemento forte da história, a criança está mais perto do natural. É um animal que vive intensamente. Quando cresce, ela é domesticada com os valores tradicionais que a antecedem. A autenticidade se perde. O adulto se apequena, almeja só consumir bens materiais e ter uma posição social importante. A imaginação e os sonhos da infância são reprimidos. Os personagens ficam amargurados e desapontados com a vida e consigo próprios. Sentem-se perdidos e sem referências. Nas entrelinhas a autora critica a superficialidade do pensamento e das atitudes da burguesia. Na realidade, nós não somos livres e sim amarrados numa camisa de força, que é a cultura.
Eduardo Oliveira Freire - dudu oliva
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