sexta-feira, agosto 11, 2006

Cinzas do Norte


Milton Hatoum
Companhia das Letras

Milton Hatoum nasceu em Manaus, em 1952. Formado em arquitetura e mestre em letras, viveu na Espanha e na França, ensinou literatura na Universidade Federal do Amazonas e na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Recebeu três prêmios Jabuti ( 1990, 2001 e 2006)

Olavo, chamado de Lavo, é o narrador deste Cinzas do Norte, um romance ambientado, na maior parte do tempo em Manaus. O melhor amigo de Lavo, Raimundo, sempre chamado de Mundo (não deve ser por acaso) é filho de Alícia que é casada com Jano mas este, logo compreendemos, não é o pai de Mundo, o mistério em torno desta paternidade permanece até a última página do livro, depois de pistas falsas semeadas.

Alícia amava Ran (Ranulfo) que era preguiçoso, beberrão e sem ambições materiais, então, cansada da pobreza em que vivia, ela casa-se com Trajano Mattoso, homem rico e herdeiro de grandes negócios, filho de um português. Alícia continua, entretanto, a se encontrar com Ran depois de casada.

Entre Mundo e Trajano há uma enorme distância, muitas páginas do romance são dedicadas a uma guerra entre o suposto pai e o filho sempre defendido pela mãe. Mundo quer ser artista, está sempre a desenhar e isso só faz aumentar a fúria de Jano. Na escola ele se aproxima de Lavo, sobrinho de Ran e essa amizade perdura até o resto da vida de Mundo.

Lavo torna-se advogado e Mundo vai, depois da morte de Jano, para o Rio com a mãe, de lá segue para a Europa. Antes disso, em Manaus, aproxima-se de um artista local, Arana que, no final das contas, revela-se uma caricatura de artista, um homem corrompido e sem compromissos com a arte, disposto a pintar o verde da Amazônia, araras e o que mais pedissem por dinheiro ou reconhecimento rápido.

Esse é o primeiro romance de M. Hatoum que eu leio, é um livro interessante, que o leitor percorre rápido, fácil de ler porque é muito linear, o autor conta a sua história sem muitas piruetas. Em alguns momentos a narrativa pareceu quase forçada (meio novela global), quando, por exemplo, o autor dá, ou tenta, umas rasteiras no leitor tentando desviar a sua atenção das relações pai-filho de Mundo e os outros três importantes personagens masculinos. A impressão que me deixou foi a de que, para manter esse mistério, o autor se embanana um pouco e compromete o caráter de Alícia, ela que parecia uma pessoa forte e decidida resvala para o contrário sem que o leitor estivesse muito preparado para tamanha mudança. Assim eu me senti, meio perdida nas linhas de Alícia. Mas é preciso dizer que, apesar destas derrapadas, é um livro envolvente, o leitor permanece atento ao clima, às descrições e ao destino das personagens até o final.
Leila Silva - Cadernos da Bélgica

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1 Comments:

Blogger Vera do Val said...

Eu li os outros dois e gostei muito.Principalmente o primeiro. Mas enfim, Jabuti é Jabuti.Ou não se fazem mais Jabutis como antigamente?
bjs

12 agosto, 2006 00:51  

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