O deserto dos tártaros
O deserto dos tártaros
Dino Buzzati
Editora Nova Fronteira
Certos livros são perigosos. Perigosos porque retiram nossos pés do conforto habitual e nos fazem mergulhar em outras realidades. Cada vez que os lemos não são os mesmos. Mas também nós não somos os mesmos. Estabelecido tal círculo, estamos presos: passam a fazer parte de nós.
O deserto dos tártaros é um livro assim. Pode-se gostar ou não, mas ninguém o atravessa impunemente. Ele retrata a condição humana perante um mundo cheio de possibilidades. Possibilidades...Será? Qual é o destino final de todos nós?
Em tempo e lugar indefinidos, Giovanni Drogo acaba de se formar na Academia Militar. Agora, oficial, sonha com mulheres, dinheiro, aproveitar a vida depois de tempos difíceis na escola. No entanto, ao contrário de suas previsões, foi destacado para o forte Bastiani, um velho forte de fronteira.
Giovanni parte, deixando a família e os prazeres da cidade. A cavalo, o caminho é longo e solitário; é preciso subir e subir, pois a construção está situada no alto de uma montanha. Ele não está satisfeito, mas tem como certo poder voltar em pouco tempo. Nem sequer imagina que vai passar ali o resto de seus dias. Por quê, caro leitor, por que Giovanni, jovem e cheio de vitalidade, resigna-se a viver longe de tudo, desfrutando apenas da companhia de seus pares em uma fortaleza decadente? Há um mistério, um mistério que perpassa toda a obra e que te convido a desvendar.
Ao norte do forte Bastiani há uma grande planície, denominada deserto dos tártaros. Antigas lendas dão conta da existência desses vizinhos; vez por outra se vêem coisas por ali, sombras, objetos que mudam de lugar. Por isso a tropa deve estar sempre pronta para se defender de uma possível invasão. Existirão? Não importa. Importa é que eles são uma possibilidade. É preciso que existam para a dar sentido à vida daqueles homens. A esperança move o mundo e é ela que mantém Giovanni preso - é natural do ser humano querer se destacar da multidão. Giovanni sonha com a invasão dos tártaros e com a chance de fazer algo grandioso, ainda que morra na batalha.
O tempo passa e, movida pela esperança, chega um dia em que a existência humana termina. O livro também termina. E de modo supreendentemente previsível. Entretanto, mesmo após o final da leitura, não se consegue evitar aquele vazio, um vazio incerto, uma pontada na alma ressoando silêncios, uma certeza de que não estamos completos.
Dino Buzzati
Editora Nova Fronteira
Certos livros são perigosos. Perigosos porque retiram nossos pés do conforto habitual e nos fazem mergulhar em outras realidades. Cada vez que os lemos não são os mesmos. Mas também nós não somos os mesmos. Estabelecido tal círculo, estamos presos: passam a fazer parte de nós.
O deserto dos tártaros é um livro assim. Pode-se gostar ou não, mas ninguém o atravessa impunemente. Ele retrata a condição humana perante um mundo cheio de possibilidades. Possibilidades...Será? Qual é o destino final de todos nós?
Em tempo e lugar indefinidos, Giovanni Drogo acaba de se formar na Academia Militar. Agora, oficial, sonha com mulheres, dinheiro, aproveitar a vida depois de tempos difíceis na escola. No entanto, ao contrário de suas previsões, foi destacado para o forte Bastiani, um velho forte de fronteira.
Giovanni parte, deixando a família e os prazeres da cidade. A cavalo, o caminho é longo e solitário; é preciso subir e subir, pois a construção está situada no alto de uma montanha. Ele não está satisfeito, mas tem como certo poder voltar em pouco tempo. Nem sequer imagina que vai passar ali o resto de seus dias. Por quê, caro leitor, por que Giovanni, jovem e cheio de vitalidade, resigna-se a viver longe de tudo, desfrutando apenas da companhia de seus pares em uma fortaleza decadente? Há um mistério, um mistério que perpassa toda a obra e que te convido a desvendar.
Ao norte do forte Bastiani há uma grande planície, denominada deserto dos tártaros. Antigas lendas dão conta da existência desses vizinhos; vez por outra se vêem coisas por ali, sombras, objetos que mudam de lugar. Por isso a tropa deve estar sempre pronta para se defender de uma possível invasão. Existirão? Não importa. Importa é que eles são uma possibilidade. É preciso que existam para a dar sentido à vida daqueles homens. A esperança move o mundo e é ela que mantém Giovanni preso - é natural do ser humano querer se destacar da multidão. Giovanni sonha com a invasão dos tártaros e com a chance de fazer algo grandioso, ainda que morra na batalha.
O tempo passa e, movida pela esperança, chega um dia em que a existência humana termina. O livro também termina. E de modo supreendentemente previsível. Entretanto, mesmo após o final da leitura, não se consegue evitar aquele vazio, um vazio incerto, uma pontada na alma ressoando silêncios, uma certeza de que não estamos completos.
Umberto Krenak
4 Comments:
Bem vindo Uk querido.Muito contente por postar sua estréia nesse blog. A primeira, tenho certeza, de uma série sempre instigante, como são suas análises no nosso Balaio. Beijão
Uk, bom te ver por aqui, também espero ver mais resenhas como esta...Gostei muito.
Abraços
Dei de presente de aniversário pro meu irmão, já pensando em quando ele vai acabar de ler!
É o Rosebud Livros alavancando a indústria editorial!
Tenho este livro como um dos mais desperançosos que já li, entretanto ele tem o mesmo magnetismo que atrai Giovani, sem se saber ao certo o que vai acontecer, mas como humanos, esperamos..... e a vida vai...
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