domingo, agosto 06, 2006

O deserto dos tártaros

O deserto dos tártaros
Dino Buzzati

Editora Nova Fronteira



Certos livros são perigosos. Perigosos porque retiram nossos pés do conforto habitual e nos fazem mergulhar em outras realidades. Cada vez que os lemos não são os mesmos. Mas também nós não somos os mesmos. Estabelecido tal círculo, estamos presos: passam a fazer parte de nós.
O deserto dos tártaros é um livro assim. Pode-se gostar ou não, mas ninguém o atravessa impunemente. Ele retrata a condição humana perante um mundo cheio de possibilidades. Possibilidades...Será? Qual é o destino final de todos nós?

Em tempo e lugar indefinidos, Giovanni Drogo acaba de se formar na Academia Militar. Agora, oficial, sonha com mulheres, dinheiro, aproveitar a vida depois de tempos difíceis na escola. No entanto, ao contrário de suas previsões, foi destacado para o forte Bastiani, um velho forte de fronteira.
Giovanni parte, deixando a família e os prazeres da cidade. A cavalo, o caminho é longo e solitário; é preciso subir e subir, pois a construção está situada no alto de uma montanha. Ele não está satisfeito, mas tem como certo poder voltar em pouco tempo. Nem sequer imagina que vai passar ali o resto de seus dias. Por quê, caro leitor, por que Giovanni, jovem e cheio de vitalidade, resigna-se a viver longe de tudo, desfrutando apenas da companhia de seus pares em uma fortaleza decadente? Há um mistério, um mistério que perpassa toda a obra e que te convido a desvendar.

Ao norte do forte Bastiani há uma grande planície, denominada deserto dos tártaros. Antigas lendas dão conta da existência desses vizinhos; vez por outra se vêem coisas por ali, sombras, objetos que mudam de lugar. Por isso a tropa deve estar sempre pronta para se defender de uma possível invasão. Existirão? Não importa. Importa é que eles são uma possibilidade. É preciso que existam para a dar sentido à vida daqueles homens. A esperança move o mundo e é ela que mantém Giovanni preso - é natural do ser humano querer se destacar da multidão. Giovanni sonha com a invasão dos tártaros e com a chance de fazer algo grandioso, ainda que morra na batalha.

O tempo passa e, movida pela esperança, chega um dia em que a existência humana termina. O livro também termina. E de modo supreendentemente previsível. Entretanto, mesmo após o final da leitura, não se consegue evitar aquele vazio, um vazio incerto, uma pontada na alma ressoando silêncios, uma certeza de que não estamos completos.


Umberto Krenak

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bem vindo Uk querido.Muito contente por postar sua estréia nesse blog. A primeira, tenho certeza, de uma série sempre instigante, como são suas análises no nosso Balaio. Beijão

06 agosto, 2006 14:39  
Blogger Leila Silva said...

Uk, bom te ver por aqui, também espero ver mais resenhas como esta...Gostei muito.
Abraços

06 agosto, 2006 20:15  
Blogger Flavio Moutinho said...

Dei de presente de aniversário pro meu irmão, já pensando em quando ele vai acabar de ler!

É o Rosebud Livros alavancando a indústria editorial!

13 agosto, 2006 09:30  
Blogger Unknown said...

Tenho este livro como um dos mais desperançosos que já li, entretanto ele tem o mesmo magnetismo que atrai Giovani, sem se saber ao certo o que vai acontecer, mas como humanos, esperamos..... e a vida vai...

03 dezembro, 2009 18:19  

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