Leon Trotski - Literatura e Revolução
Literatura e Revolução
Leon Trotski
Jorge Zahar Editor
Observou Augusto Comte que “qualquer concepção só pode ser bem entendida pela sua história”. De acordo com tal assertiva, se quisermos bem compreender o livro “Literatura e Revolução”, que em boa hora a editora Zahar coloca ao alcance do público, nada melhor do que, preliminarmente, situá-lo no contexto em que nasceu e explicitar a natureza das questões que trata. O Autor do livro é Leon Trotski (1879 – 1940), um intelectual marxista voltado para a ação política, figura de proa e de primeira hora na revolução bolchevique de 1917 e marginalizado a partir de 1924, com a chegada de Stalin ao poder. Trotski morreu assassinado por um militante stalinista, no exílio, no México,
A maior parte das páginas que compõem “Literatura e Revolução” foram redigidas entre 1922 e 1923, portanto no momento histórico imediatamente posterior a assinatura do tratado de Brest-Litovsk (1918) entre a Rússia e a Alemanha - tratado que pôs fim ao estado de beligerância existente entre os dois países desde a eclosão da 1ª grande guerra mundial em 1914 - e a vitória do Exército Vermelho sobre as resistências internas a revolução bolchevique. Nos dois acontecimentos Trotski exerceu papel de destaque, chefiando a delegação soviética no primeiro e comandando o Exército Vermelho no segundo. Com a paz obtida tanto interna quanto externamente, os olhos dos líderes revolucionários voltam-se detidamente para os problemas da construção da nova sociedade. Este é o contexto em que Trotsky escreve sobre literatura exponde seus pontos de vista sobre as relações entre política, letras e sociedade.
O livro é apresentado por William Keach, professor da Universidade de Brown, em Boston, tendo sido a edição brasileira traduzida para o português e prefaciada por Luiz Alberto Moniz Bandeira, um dos mais laureados intelectuais do país, doutor em Ciência Política pela USP e ex-professor titular do UnB. Apresentador e prefaciador dão um panorama muito fecundo das questões tratadas por Trotski, o que facilita o contato com o livro até por parte de pessoas pouco afeitas as nuances da revolução de outubro e seus desdobramentos iniciais. Uma breve cronologia da vida de Trotski e um acurado glossário de nomes citados também ajudam a dar mais clareza e consistência ao texto, na medida em que situa quem é quem.
Ressalvando que “a economia é hoje o maior dos problemas”, Trotski adentra a questão do papel social da literatura, da arte e da cultura em geral no delicado momento que vivia seu país no início dos anos vinte do século passado; momento que vê como de transição entre o velho mundo dos czares e o do irromper da nova ordem que, acreditava, desembocaria no reino da abundância e da liberdade. “A sociedade futura irá se descartar da áspera e embrutecedora preocupação do pão de cada dia. Os restaurantes coletivos prepararão a escolha de cada um, comida boa, sadia e apetitosa. As lavanderias públicas lavarão bem as roupas. Todas as crianças serão fortes, alegres, bem alimentadas e absorverão os elementos fundamentais da ciência e da arte, como albumina, o ar e o calor do sol”.
Para Trotski a revolução de 1917 é o divisor de águas entre o mundo que desabou e o das esperanças emergentes. É à luz desta matriz que analisa o papel da arte como superestrutura, passando em revista as escolas literárias que agonizam e as que nascem, comentando: “quem se conserva fora da perspectiva de outubro está, completa e desesperadamente reduzido a nada”. Suas análises têm por centro 4 escolas literárias : o subjetivismo russo, o futurismo, e a dos qualificados como “companheiros de viagem” e a da cultura e arte proletária. Interessante destacar que as análises de Trotski deixam perceber a cisão que logo ocorreria entre ele e a linha seguida pela direção do partido. Trotski defende a liberdade de criação artística e literária, sem perder de vista as relações entre a arte e sociedade. Inversamente, o partido vai adotar a postura do tutelamento da cultura erigindo o “realismo socialista” a condição de estética oficial do estado soviético
Ler “literatura e Revolução” nos dias atuais é uma aventura do espírito, é soltar a imaginação viajando pelas nuvens das concepções estéticas que se confrontaram no limiar de um movimento revolucionário que criou tantas esperanças quanto decepções durante o período de tempo que o historiador Eric Hobsbawm chamou de “o breve século XX”.
Aluízio Alves Filho - Revista Achegas
Leon Trotski
Jorge Zahar Editor
Observou Augusto Comte que “qualquer concepção só pode ser bem entendida pela sua história”. De acordo com tal assertiva, se quisermos bem compreender o livro “Literatura e Revolução”, que em boa hora a editora Zahar coloca ao alcance do público, nada melhor do que, preliminarmente, situá-lo no contexto em que nasceu e explicitar a natureza das questões que trata. O Autor do livro é Leon Trotski (1879 – 1940), um intelectual marxista voltado para a ação política, figura de proa e de primeira hora na revolução bolchevique de 1917 e marginalizado a partir de 1924, com a chegada de Stalin ao poder. Trotski morreu assassinado por um militante stalinista, no exílio, no México,
A maior parte das páginas que compõem “Literatura e Revolução” foram redigidas entre 1922 e 1923, portanto no momento histórico imediatamente posterior a assinatura do tratado de Brest-Litovsk (1918) entre a Rússia e a Alemanha - tratado que pôs fim ao estado de beligerância existente entre os dois países desde a eclosão da 1ª grande guerra mundial em 1914 - e a vitória do Exército Vermelho sobre as resistências internas a revolução bolchevique. Nos dois acontecimentos Trotski exerceu papel de destaque, chefiando a delegação soviética no primeiro e comandando o Exército Vermelho no segundo. Com a paz obtida tanto interna quanto externamente, os olhos dos líderes revolucionários voltam-se detidamente para os problemas da construção da nova sociedade. Este é o contexto em que Trotsky escreve sobre literatura exponde seus pontos de vista sobre as relações entre política, letras e sociedade.
O livro é apresentado por William Keach, professor da Universidade de Brown, em Boston, tendo sido a edição brasileira traduzida para o português e prefaciada por Luiz Alberto Moniz Bandeira, um dos mais laureados intelectuais do país, doutor em Ciência Política pela USP e ex-professor titular do UnB. Apresentador e prefaciador dão um panorama muito fecundo das questões tratadas por Trotski, o que facilita o contato com o livro até por parte de pessoas pouco afeitas as nuances da revolução de outubro e seus desdobramentos iniciais. Uma breve cronologia da vida de Trotski e um acurado glossário de nomes citados também ajudam a dar mais clareza e consistência ao texto, na medida em que situa quem é quem.
Ressalvando que “a economia é hoje o maior dos problemas”, Trotski adentra a questão do papel social da literatura, da arte e da cultura em geral no delicado momento que vivia seu país no início dos anos vinte do século passado; momento que vê como de transição entre o velho mundo dos czares e o do irromper da nova ordem que, acreditava, desembocaria no reino da abundância e da liberdade. “A sociedade futura irá se descartar da áspera e embrutecedora preocupação do pão de cada dia. Os restaurantes coletivos prepararão a escolha de cada um, comida boa, sadia e apetitosa. As lavanderias públicas lavarão bem as roupas. Todas as crianças serão fortes, alegres, bem alimentadas e absorverão os elementos fundamentais da ciência e da arte, como albumina, o ar e o calor do sol”.
Para Trotski a revolução de 1917 é o divisor de águas entre o mundo que desabou e o das esperanças emergentes. É à luz desta matriz que analisa o papel da arte como superestrutura, passando em revista as escolas literárias que agonizam e as que nascem, comentando: “quem se conserva fora da perspectiva de outubro está, completa e desesperadamente reduzido a nada”. Suas análises têm por centro 4 escolas literárias : o subjetivismo russo, o futurismo, e a dos qualificados como “companheiros de viagem” e a da cultura e arte proletária. Interessante destacar que as análises de Trotski deixam perceber a cisão que logo ocorreria entre ele e a linha seguida pela direção do partido. Trotski defende a liberdade de criação artística e literária, sem perder de vista as relações entre a arte e sociedade. Inversamente, o partido vai adotar a postura do tutelamento da cultura erigindo o “realismo socialista” a condição de estética oficial do estado soviético
Ler “literatura e Revolução” nos dias atuais é uma aventura do espírito, é soltar a imaginação viajando pelas nuvens das concepções estéticas que se confrontaram no limiar de um movimento revolucionário que criou tantas esperanças quanto decepções durante o período de tempo que o historiador Eric Hobsbawm chamou de “o breve século XX”.
Aluízio Alves Filho - Revista Achegas
Jornal do Brasil - Idéias
1 Comments:
estou querendo muito ler esse livro. agora me deu mais vontade ainda para ler!
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