Os Momossexuais - Tavinho Paes
Tavinho Paes é poeta, compositor e velho conhecido do meio intelectual. Com mais de 200 registros musicais - como “Totalmente Demais” (Caetano Veloso) e “Rádio Blá” (Lobão) -, Tavinho tem cerca de 100 títulos lançados como panfletos marginais desde 1975. Seu primeiro livro, "Os Momossexuais", reúne diversas marchinhas de Carnaval de sua autoria, narrando um pouco da história recente do Brasil, repleto de um humor sarcástico e debochado. “Os Momossexuais” trata de liberdade, sexualidade e os paradoxos do mundo contemporâneo, apostando na sensibilidade crítica do leitor para desvendar além das linhas escritas.
1) Quem são os Momossexuais?
São uma alternativa ao que não tem alternativa.
Podem ser aquela caveira que Sheakespeare colocou na mão de Hamlet...
Duas indicações no livro afirmam que são pessoas que fazem sexo em ritmo de carnaval e, por conta disto, são cheios de fantasias, incluindo as celibatárias.
Aprofundando o conceito, trata-se de uma palavra-valise sofisticada, na qual paradoxos lógicos se combinam.
O Carnaval, espaço técnico do reinado momesmo (curiosamente demarcado pelo calendário católico), é uma das poucas épocas do ano em que, por um período de tempo, uma pessoa pode se dar ao luxo de " ser quem ela não é" (o delegado pode sair fantasiado de índio; o bicheiro se torna presidente de uma comunidade, um machão pode se fantasiar de mulher, etc.). Associando este fato lúdico à sexualidade, cria-se uma contradição: pois em relação ao sexo todo mundo "tem que ser exatamente quem é", senão não há prazer nem liberdade.
Os Momossexuais representam em essência os conceitos de liberdade pós-modernos; afinal vivemos tempos em que a democracia gestada no viés liberal do iluminismo, destituiu a pessoa romântica de sua intimidade e deu ao indivíduo (submisso às regras comunitárias do estado) ferramentas de ação social, fragmentando sua identidade e criando ao seu redor uma liberdade sem sujeito.
Assim, Os Momossexuais são e não são qualquer coisa ao mesmo tempo.
Uma caricatura da charada que Wittgenstein armou para tratar da questão da loucura: se o centro sair do centro, de que lado estará o lado que estava ao seu lado, pois se o centro não está no centro, porque o que estava ao seu lado (e não se moveu) deveria continuar lá?
2 ) Logo no início do livro, no "histórico", você fala sobre a mediocriadade do preconceito. O livro tem pretensão de ser um instrumento contra o preconceito sexual?
Os preconceitos (incluindo os sexuais, que, atualmente, são os mais banais no universo social) servem como parâmetros retóricos para identificar as várias contradições do mundo contemporâneo.
São fósseis vivos da mente primitiva, artefatos do sistema límbico herdados dos homídios paleolíticos, que, ao dividir o mundo em nós/eles, determina motivos para guerras, sugere razões para as hierarquias do aparelho de estado e influi em todas as formas de divisão sociais.
Neste sentido, o livro, com um humor acima da média, identifica nos preconceitos a alavanca que promove a violência, insufla as diferenças e alimenta o ódio entre pessoas, grupos e nações.
A sexualidade inscrita no conjunto de seu título funciona mais como trocadilho do que como fundamento.
A sexualidade que está em foco não é venérea. Sua ação só se estabelece enquanto relação de poder.
Um momossexual não é (mas pode ser) hétero ou homossexual: a sexualidade que nele se manifesta atua criteriosamente sobre a vontade de potência, jogando um jogo que não se sabe onde começa nem como termina e que, em atividade, não privilegia vencedores nem aponta vencidos...
1) Quem são os Momossexuais?
São uma alternativa ao que não tem alternativa.
Podem ser aquela caveira que Sheakespeare colocou na mão de Hamlet...
Duas indicações no livro afirmam que são pessoas que fazem sexo em ritmo de carnaval e, por conta disto, são cheios de fantasias, incluindo as celibatárias.
Aprofundando o conceito, trata-se de uma palavra-valise sofisticada, na qual paradoxos lógicos se combinam.
O Carnaval, espaço técnico do reinado momesmo (curiosamente demarcado pelo calendário católico), é uma das poucas épocas do ano em que, por um período de tempo, uma pessoa pode se dar ao luxo de " ser quem ela não é" (o delegado pode sair fantasiado de índio; o bicheiro se torna presidente de uma comunidade, um machão pode se fantasiar de mulher, etc.). Associando este fato lúdico à sexualidade, cria-se uma contradição: pois em relação ao sexo todo mundo "tem que ser exatamente quem é", senão não há prazer nem liberdade.
Os Momossexuais representam em essência os conceitos de liberdade pós-modernos; afinal vivemos tempos em que a democracia gestada no viés liberal do iluminismo, destituiu a pessoa romântica de sua intimidade e deu ao indivíduo (submisso às regras comunitárias do estado) ferramentas de ação social, fragmentando sua identidade e criando ao seu redor uma liberdade sem sujeito.
Assim, Os Momossexuais são e não são qualquer coisa ao mesmo tempo.
Uma caricatura da charada que Wittgenstein armou para tratar da questão da loucura: se o centro sair do centro, de que lado estará o lado que estava ao seu lado, pois se o centro não está no centro, porque o que estava ao seu lado (e não se moveu) deveria continuar lá?
2 ) Logo no início do livro, no "histórico", você fala sobre a mediocriadade do preconceito. O livro tem pretensão de ser um instrumento contra o preconceito sexual?
Os preconceitos (incluindo os sexuais, que, atualmente, são os mais banais no universo social) servem como parâmetros retóricos para identificar as várias contradições do mundo contemporâneo.
São fósseis vivos da mente primitiva, artefatos do sistema límbico herdados dos homídios paleolíticos, que, ao dividir o mundo em nós/eles, determina motivos para guerras, sugere razões para as hierarquias do aparelho de estado e influi em todas as formas de divisão sociais.
Neste sentido, o livro, com um humor acima da média, identifica nos preconceitos a alavanca que promove a violência, insufla as diferenças e alimenta o ódio entre pessoas, grupos e nações.
A sexualidade inscrita no conjunto de seu título funciona mais como trocadilho do que como fundamento.
A sexualidade que está em foco não é venérea. Sua ação só se estabelece enquanto relação de poder.
Um momossexual não é (mas pode ser) hétero ou homossexual: a sexualidade que nele se manifesta atua criteriosamente sobre a vontade de potência, jogando um jogo que não se sabe onde começa nem como termina e que, em atividade, não privilegia vencedores nem aponta vencidos...
Leia na íntegra em MPB FM
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1 Comments:
Acabei de "me achar", via Google ... gostei muito do registro!
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