Marcelo Coelho - Tempo Medido
"Costumava resistir a chamar de 'crônicas' aquilo que escrevo para o jornal. Por certo, há nesses textos um tom subjetivo, descompromissado com a informação jornalística mais 'dura', e certa liberdade na associação de idéias, que a rigor não correspondem às exigências mais estritas do trabalho de crítica ou de reportagem. Mas a crônica pura, a meu ver, não é um gênero argumentativo, que suscite do leitor discordância ou concordância intelectual. Costumo discutir idéias nesses textos; ainda que, com o passar dos anos, eu tenha passado a evitar o puro impulso da provocação polêmica, um fundo de opiniões constantes, e mesmo teimosas, sustenta a maior parte dos artigos". Assim Marcelo Coelho abre sua recém-lançada coletânea Tempo medido (Publifolha), que reúne 101 crônicas selecionadas das que publicou semanalmente na "Ilustrada", da Folha de S.Paulo, entre 1998 e 2007.
Apesar da repetição de algumas passagens, caso da sensação das crianças de que quando se fecha a porta de um quarto, as coisas lá dentro começam a se mexer, e da citação da frase de Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal" (que aparece em Retrato de um torturador e em Um dia ameno com Hitler e Eva Braun), Marcelo Coelho discorre a respeito dos mais diferentes assuntos com bastante propriedade numa linguagem particular, que mistura o erudito com bom-humor, muitas vezes ácido. Há desde comentários a respeito do seriado Perdidos no espaço e de uma exposição que exibia um "falso" divã de Freud, camuflado por um tapete, até uma triste previsão do futuro político brasileiro quando trata das alianças do PT com o PL e de Lula com o publicitário Duda Mendonça, na qual conclui em 9 de janeiro de 2002: "A esta altura, já não sei se é Duda Mendonça quem trabalha para Lula ou se é Lula quem trabalha para Duda Mendonça. Eles que se entendam".
Um dos melhores textos é "Burocracia participativa", em que Coelho descreve os terríveis sistemas de serviço por telefone, que obrigam o usuário a ficar apertando teclas sem parar e escutando músicas eruditas que, repetidas à exaustão, se tornam insuportáveis. Há ainda um ótimo texto a respeito da terrível mania de se preencher cupons para concorrer a qualquer coisa. Nesse sentido, sente-se falta de dois textos, que infelizmente ficaram de fora dessa coletânea: um a respeito das dificuldades da vida moderna, quando descreve o sabão líquido de banheiros públicos que mais parece um cuspe em suas mãos (ele sofre de saudades de quando era possível passar horas lavando as mãos com sabonete!) e outro que descreve o acanhamento de Gustavo Kuerten ao voltar ao Brasil após vencer algum torneio internacional como sendo semelhante ao de um garotinho diante de uma tia velha e gorda.
No final do livro, Marcelo Coelho já é quase um amigo de infância, um tio bem-humorado que gosta de contar histórias divertidas ou aquele vizinho ranheta que reclama de quase tudo, mas que, no final, conquista, de modo avassalador, todas as pessoas ao seu redor. É a isso, provavelmente, que denominam o poder da crônica, ou seja, criar rapidamente uma identidade com o leitor e, ao tratar de temas aparentemente banais, levantar questões bastante profundas.
Guilherme Bryan – Revista Cult
Apesar da repetição de algumas passagens, caso da sensação das crianças de que quando se fecha a porta de um quarto, as coisas lá dentro começam a se mexer, e da citação da frase de Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal" (que aparece em Retrato de um torturador e em Um dia ameno com Hitler e Eva Braun), Marcelo Coelho discorre a respeito dos mais diferentes assuntos com bastante propriedade numa linguagem particular, que mistura o erudito com bom-humor, muitas vezes ácido. Há desde comentários a respeito do seriado Perdidos no espaço e de uma exposição que exibia um "falso" divã de Freud, camuflado por um tapete, até uma triste previsão do futuro político brasileiro quando trata das alianças do PT com o PL e de Lula com o publicitário Duda Mendonça, na qual conclui em 9 de janeiro de 2002: "A esta altura, já não sei se é Duda Mendonça quem trabalha para Lula ou se é Lula quem trabalha para Duda Mendonça. Eles que se entendam".
Um dos melhores textos é "Burocracia participativa", em que Coelho descreve os terríveis sistemas de serviço por telefone, que obrigam o usuário a ficar apertando teclas sem parar e escutando músicas eruditas que, repetidas à exaustão, se tornam insuportáveis. Há ainda um ótimo texto a respeito da terrível mania de se preencher cupons para concorrer a qualquer coisa. Nesse sentido, sente-se falta de dois textos, que infelizmente ficaram de fora dessa coletânea: um a respeito das dificuldades da vida moderna, quando descreve o sabão líquido de banheiros públicos que mais parece um cuspe em suas mãos (ele sofre de saudades de quando era possível passar horas lavando as mãos com sabonete!) e outro que descreve o acanhamento de Gustavo Kuerten ao voltar ao Brasil após vencer algum torneio internacional como sendo semelhante ao de um garotinho diante de uma tia velha e gorda.
No final do livro, Marcelo Coelho já é quase um amigo de infância, um tio bem-humorado que gosta de contar histórias divertidas ou aquele vizinho ranheta que reclama de quase tudo, mas que, no final, conquista, de modo avassalador, todas as pessoas ao seu redor. É a isso, provavelmente, que denominam o poder da crônica, ou seja, criar rapidamente uma identidade com o leitor e, ao tratar de temas aparentemente banais, levantar questões bastante profundas.
Guilherme Bryan – Revista Cult
1 Comments:
BOMMMMMMM DIA ET FÉLICITATION !!
Descobri hoje por acaso este Site maravilhosooo !
J'ai adoré son titre : ROSEBUD évidemment ! Ele me faz lembrar tantas coisas da minha propria vida !
PARABENS PRA VOCES !! FAREI CONHECÉ-LO NO MEU SITE até pouco tempo ! PRRRRRROMETTO !
Até mais +++++++++++++
RBBR
Postar um comentário
<< Home