terça-feira, maio 15, 2007

Mark Twain - Tom Sawyer


Tom Sawyer
Mark Twain
Os livros de Samuel Langhorne Clemens (o verdadeiro nome de Mark Twain) são marcados em sua maioria por um tom leve, divertido e humorado. O seu humor, no entanto, não é tão simples como pode parecer á primeira vista. Quase sempre é uma critica feroz e satírica dirigida à sociedade norte-americana em sua fase de formação como país independente, não só física como culturalmente. Twain ajudou a montar uma literatura autenticamente norte-americana, junto com um Natanhiel Hawthorne ou Herman Melville Recolhia histórias, prestava atenção nos detalhes, fantasiava, moldava uma mentalidade, fixava-se no folclore. Mas, não era nada condescendente. Seus personagens mais famosos como Tom Sawyer ou Huckberry Finn são exemplos de uma força de vontade indomável, graça irreprimível, elogio à vida. E, ao mesmo tempo, são acompanhados por uma descrição quase naturalista de tipos de pessoas comuns e ignorantes e um sarcasmo sem contemplações para suas características menos admiráveis. Andamos por ruas e regiões ainda quase selvagens e desabitadas, principalmente ao longo do rio Mississipi.
Pode-se rir ao longo de toda a obra, da primeira a ultima página de “Tom Sawyer”, admirar a estonteante imaginação de Twain, suspirar por uma infância passada que sempre imaginamos ter sido mais pura e simplificada, com todas suas fantasias, brincadeiras e ilusões. Pode-se chegar ao fim e contentar-se somente em considera-lo como um livro divertido e gostoso de ler. Ao leitor um pouco mais atento não escaparão as idiossincrasias, as imperfeições intimas, os conflitos, as contradições pessoais. Os personagens dos livros de Mark Twain podem ser engraçados, mas sempre demarcados por um detalhe a mais, mesmo que adverso. Na prática, é isso que faz com que sejam, ao final de contas, realmente humanos. Reais.
Mark Twain expressa em grau superlativo uma dessas enormes contradições entre obra e autor que são muito mais comuns do que imaginamos. Enquanto seus livros alcançavam um pico de humor e satisfação e sua fama corria solta, sua vida foi marcada por constantes tragédias, problemas de saúde, mortes.
Nascido em 1835, no Missouri, sua infância é fortemente marcada e influenciada pela proximidade e importância do rio Mississipi. Durante vários anos trabalhou como piloto dos barcos que percorriam o rio, conheceu todas as paradas e vilarejos á suas margens, conviveu com todo esse povo ribeirinho, ele próprio sempre fora morador de uma dessas cidades. O seu pseudônimo, aliás, provém exatamente disso: os marinheiros costumavam gritar “Mark Two” para avisar que o rio estava em condições de navegar, significando que a água estava com quatro metros de profundidade. Nos seus termos, quatro metros eram duas braças, por isso o grito: “Marca Duas!”.
Ele tentou ser mineiro em Nevada, mas não deu certo. Sua vocação era mesmo trabalhando nos jornais onde começou como aprendiz de tipógrafo. Começou a escrever contos, crônicas, pequenas reportagens. Seu estilo bem-humorado mesclado com um forte sarcasmo e retratando a vida cotidiana fez enorme sucesso. Outra faceta marcante eram as conferências: era um conferencista brilhante proporcionando verdadeiros shows populares, requisitado constantemente, apesar de cobrar caro pelas suas apresentações. Seu primeiro livro foi publicado em 1867 e todas as suas obras venderam muito bem. Fundou sua própria editora em 1884. O clássico “Tom Sawyer” foi lançado em 1876, firmando ainda mais, se possível, sua popularidade.
Isso, por um lado. Por outro, as dívidas sempre o perseguiram, apesar do dinheiro que recebia do seu trabalho; houve a doença que por muito tempo, acometeu sua mulher que, entre muito sofrimento, obrigou-os a ficar separados nos últimos momentos de sua agonia. Seu filho Langdon havia morrido somente com dois anos de idade e sua filha mais amada, Livy, morreu na banheira por causa de um ataque epiléptico enquanto tomava banho. Sua editora dura apenas dez anos e ele é obrigado a cada vez mais trabalho, mais artigos, mais conferências pagas para poder cobrir suas dívidas.
O impressionante é o como tenha podido, entre tantas turbulências, escrever uma vasta obra e com tal qualidade. Em 1885, publica o outro clássico, a continuação de “Tom Sawyer”, “As Aventuras de Huckberry Finn”, por muitos considerada sua obra máxima.
Deixemo-nos guiar pela inteligência e as artimanhas de Tom e a sede absoluta de liberdade do seu melhor amigo Huck, ao sabor da corrente do Mississipi, entre brincadeiras de barco de pirata, primeiros namoros, e um assassinato no cemitério.

Claudinei Vieira - Desconcertos

Nota: Tom Sawyer tem várias publicações no Brasil. Ediouro, Nova Cultural, Scipione, Martin Claret, Melhoramentos, Ática, Nacional, Objetiva, etc.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

parabens, adorei a sua analise

19 setembro, 2007 16:48  

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