domingo, dezembro 02, 2007

Oscar Niemeyer - Cem anos


Construção de Brasilia - 1956 -1960
"Deus criou o mundo em sete dias. Em seguida criou Oscar Niemeyer."
Josias de Souza

No próximo dia 15 de dezembro, o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer completa 100 anos. Nascido no Rio de Janeiro e responsável por projetos importantes como o Complexo da Pampulha em Belo Horizonte, os edifícios de Brasília e o Copan em São Paulo, Niemeyer foi recentemente apontado como o nono mais importante gênio vivo da humanidade.
Abaixo, os arquitetos Lelé, Angelo Bucci e Ricardo Ohtake, além do engenheiro José Carlos Süssekind comentam a obra de Niemeyer:

"Imagine que com meia dúzia de linhas feitas a giz na lousa de uma escola primária, em qualquer lugar, uma classe inteira de crianças fosse capaz de reconhecer nesses traços um certo edifício, quero dizer um edifício específico, não qualquer um. Mais que isso, imagine que qualquer uma dessas crianças fosse capaz de esboçar, ela mesma, edifícios que todos os outros meninos reconheçam: Palácio da Alvorada, Catedral de Brasília, Congresso Nacional e tantos outros.
Quando se diz que as obras de Oscar Niemeyer fazem parte do nosso imaginário é dessa extensão profunda que falamos. Ou seja, elas estão impregnadas de tal modo que somos, todos e desde criança, capazes de esboçar, de cor, um par de obras suas.
Imagine que qualquer uma daquelas crianças, à medida que amadureça e vá ampliando a sua compreensão do mundo, quando ela recorre àqueles edifícios de seu acervo imaginário, eles não frustram. Quer dizer, eles surpreendem sempre quer seja pela clareza, pela solução da estrutura, pelos arranjos dos programas, enfim, pela beleza e invenção que neles parecem não ter fim.
Qualquer arquiteto atuante hoje no mundo foi um desses meninos."
Angelo Bucci, arquiteto e professor doutor da FAU/USP

"Todos nós arquitetos, principalmente os cariocas, tínhamos admiração máxima pelo trabalho de Niemeyer. Após conhecê-lo, vi que é também uma pessoa extremamente generosa, sempre houve uma transferência de conhecimento muito boa entre nós.
Eu não conseguiria apontar uma obra preferida, porque ele se renova a cada momento. Sua produção tem fases que vão se sucedendo, cada vez com mais apuro.
A característica principal da obra dele é a intuição, baseada na lógica da natureza, no instinto das mentes privilegiadas dos gênios. Por isso mesmo, a sua obra é capaz de emocionar qualquer ser humano, independente da sua formação intelectual e categoria social.
Eu acho que as escolas de arquitetura hoje em dia estão muito voltadas para as últimas tecnologias, na trilha dos arquitetos europeus, quando tinham que ensinar o cotidiano também. Niemeyer se expressava de uma maneira elegante, claro, e também se utiliza da tecnologia, mas a expressão máxima do que ele alcançou foi sempre pela plasticidade do concreto armado. Os estudantes de hoje têm a missão de absorver toda essa qualidade da obra dele de forma inteligente, para que não se caia na caricatura, o que seria terrível."
João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, arquiteto integrante de uma das equipes de construção de Brasília

"[Sobre a complicação em realizar os projetos de Niemeyer] As coisas do Oscar sempre são complicadas no atacado. Porque ele tem horror do complicado ao varejo, de fazer uma varandinha, um recortadinho. Os prédios dele são complicados, mas com um problema só. E ele mostra que um projeto para ser monumental não precisa ter sei lá quantos metros e custar caríssimo. O museu de Niterói, por exemplo, que não tem coisa mais badalada, custou R$ 5 milhões.
[Sobre a generosidade de Niemeyer] A metade do que ele fez, ele não cobrou. A metade que ele cobra, ele cobra a metade. No prédio das Nações Unidas, em Nova York [único projeto de que Niemeyer diz se arrepender], ele pecou por generosidade. Uns anos mais tarde o Le Corbusier encontrou com ele e falou: "Oscar, como você é generoso", em referência a uma mudança no projeto que ele pediu e o Niemeyer aceitou."
José Carlos Süssekind, engenheiro responsável por diversas obras de Niemeyer

"Niemeyer introduziu linhas curvas. Uma arquitetura possibilitando uma cobertura curva. No Complexo da Pampulha ele começou fazendo a igreja como cobertura, a Casa de Baile tem um pequeno espaço fechado e depois uma marquise que vai fazendo curvas sinuosas, possibilitando ter uma paisagem do mar. Isto tudo foi ele quem inventou, e ninguém esperava ver uma coisa dessas. Até hoje o Niemeyer avança no processo de cálculos de estrutura, ele obriga os engenheiros a se virarem. Quando estes projetos foram para a Europa eles ficaram boquiabertos, foi daqui pra lá.
O ideal dele é mais ou menos o do modernismo, o da arquitetura para todos. O espaço público é um espaço democrático onde todos podem entrar, é essa a sua visão sempre. Brasília inclusive demonstra esta característica, a superquadra foi proposta para ter todos os prédios com o vão livre no térreo. É uma coisa muito transparente e muito agradável.
A atitude e o processo que o Oscar tem para desenvolver o seu trabalho são fundamentais para qualquer estudante e qualquer arquiteto. Ele trabalha com uma invenção e uma adequação, como nenhum outro."
Ricardo Ohtake, arquiteto, designer gráfico e autor do livro "Folha Explica Oscar Niemeyer"

Folha de S Paulo
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