terça-feira, setembro 11, 2007

Nestor de Holanda - Como seria o Brasil socialista


Nestor de Holanda
Como seria o Brasil socialista
Cadernos do Povo Brasileiro n. 8
Rio de Janeiro
Editora Civilização Brasileira, 1963.

De repente meus olhos bateram em um livro de pequeno tamanho que estava adormecido na estante de um sebo ladeado por confetes, serpentinas, guerras, quixotes e punhado de outros. Como tamanho não é documento, tomei aquela raridade entre as mãos; abri-a e no mesmo instante voei no tempo, de volta ao passado. Capinha de papelão, bem simples, mas ainda conservada. Lombada durinha, esticada de ponta a ponta, orgulhosa, mas com desgastes e amarelados feito pelas décadas.
O livrinho, formato 17X14, tem por título “Como seria o Brasil socialista” e beira a centena de páginas. Número 8 da série “Cadernos do Povo Brasileiro”, da Editora Civilização Brasileira. O ano de publicação é 1963 e seu autor Nestor de Holanda. Passei no caixa, troquei algumas palavras com ele e com alguns fregueses da livraria que falavam a respeito da corrupção que grassa no país. Havia um senhor alto e gordo, muito avermelhado, meio sufocado em um terno que, dedo indicador em riste apontando para o teto, brandia por justiça, pela apuração de responsabilidades e por punições severas para as “ratazanas do tesouro” – como dizia. “Desta vez, nada de pizza! Nada de pizza” , vociferava, com cara de quem devoraria sozinho uma calabresa, das grandes, e umas duas ou três portuguesas, das pequenas.
Deixei uns trocados no caixa e, segurando a relíquia, sai com passadas firmes. Nem esperei chegar em casa, vim lendo no metrô. Livrinho pequeno, dava jeito. Comecei a ler em pé, agarrado no balaústre. Pura sorte que logo na primeira parada um casal saltou. Fui rápido e conseguir me aboletar numa das vagas que foram abertas antes que outros competidores o fizessem.
Que livrinho delicioso! Nestor de Holanda Cavalcante Neto nasceu em 1921, em Vitória de Santo Antão (Pernambuco) e faleceu no Rio de Janeiro em 1970. Descendia do farmacêutico Nestor de Holanda Cavalcanti Filho e da médica Maria de Lourdes Galharda. de Holanda Cavalcanti. Sua vocação para as letras e para o jornalismo manifestou-se quando era bem jovem, tendo trabalhado em órgão da imprensa e lançado “Fontes Luminosas”, o seu primeiro livro, quando tinha 17 anos e residia em Recife. Em 1941 botou o pé na estrada e veio atrás de luz, do brilho e do espetáculo, migrando para cidade grande, para o Rio de Janeiro, então capital da República.
Chegou! Viu e venceu! Sentou praça e ganhou as divisas de Sargento. Mergulhou na boêmia e nas letras após dar baixa do Exército, com o fim da 2ª. Grande Guerra (1939 – 1945). Trabalhou em monte de jornais e revistas, entre os quais: A Noite, o Diário Carioca, a Última Hora e a Manchete. Neles, fez de tudo: foi foca, colunista e diretor. Escreveu para o teatro-rebolado, para o rádio e para a TV. Na música fez parceria com pesos pesados como Ari Barroso e Haroldo Barbosa.
Era um tempo de ouro. A imprensa não estava dominada por discursos monocórdios e de uma nota só como agora. A polêmica comia a solto. Desnecessário alinhar nomes de colunistas das diferentes áreas, tantos eram os bambambans. Portador de um estilo irônico, solto e combativo, o pernambucano de Vitória de Santo Antão, soube abrir caminho no meio daquela plêiade de astros. Retrata isso a quantidade de seus livros que estiveram entre os mais polêmicos e vendidos. Entre outros: Telhado de Vidro, A Ignorância ao Alcance de Todos, Diálogo Brasil Rússia e O Mundo Vermelho. Os dois últimos, produto de reportagens jornalísticas que fez na extinta União Soviética. E não dá para deixar de mencionar Memórias do Café Nice – um clássico sobre a boemia carioca.
O metrô estancou num relance. Caminhei um pouco e abri a porta de casa, disse um “oi” . Não olhei o noticiário e não quis saber se contas haviam sido pagas, nem se novas haviam chegado. Só sosseguei quando saboreei as últimas linhas daquele livro de Holanda. Onde passa boi passa boiada. Holanda imagina como seriam as empresas, os trabalhadores, os poderes, a sociedade, a religião, a educação, o comércio, a indústria e a agricultura em um hipotético Brasil socialista Abril de 1964 jogou aquilo tudo no chão, sonhos e utopias..
Assisti um jornal televisivo por volta da meia-noite. Houve o maior bang-bang a pouca distância de onde moro. E não é que o meu time perdeu outra vez? Puxa vida! Pelo andar da carruagem nosso técnico já era. Já vai tarde. Oxalá que desta vez dê com os burros n’água. Chega de derrota. Mas em compensação, a bolsa de valores de Tóquio teve uma ampla recuperação e tornou a subir. Gracias!

Aluízio Alves Filho – Revista Achegas

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

As "ratazanas do tesouro" mais uma vez se locupletam com a absolvição de "Renan Dinheiros" em Brasília. Ah, como seria melhor um "mundo vermelho". O professor Aluizio é conhecido aqui nas plagas da Guanabara como um cientista político literato. Sorte nossa!

12 setembro, 2007 21:41  

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