quinta-feira, outubro 05, 2006

Dickens - Um conto de duas cidades

Um conto de duas cidades
Charles Dickens

Charles Dickens nasceu em 1812, em uma Inglaterra convulsionada pelas maravilhas e terrores da Revolução Industrial. Pobre, foi obrigado a começar a trabalhar aos doze anos em uma fábrica, pois seu pai não conseguiu escapar dos credores apesar das mudanças de residência e foi preso por não saldar suas dívidas. Ao morrer, em 1870, Dickens era rico, respeitado e idolatrado como um dos escritores mais populares da literatura inglesa e universal.
Semanal ou mensalmente, conforme o jornal ou revista que o estivesse publicando, seu trabalho era avidamente esperado. Mais um capítulo para saber o que aconteceria ao pobre Oliver Twist, ou ao desventurado David Coperffield, ou a Lucie Manette, heroína de “Um Conto de Duas Cidades”. Suas alegrias e tristezas, aventuras ou descobertas eram seguidos fielmente, durante meses, vários meses, às vezes anos. Tal e qual qualquer telenovela de hoje em dia. “Oliver Twist”, por exemplo, começou em 1837 e foi sendo publicado mensalmente até abril de 1839; “Martin Chuzzlewit”, foi de 1843 até julho de 1844. Mais tarde, esses capítulos eram reunidos, se transformavam em livros e ajudaram a fazer a fama de Dickens pelo mundo.
A própria vida de Dickens daria um folhetim de bom tamanho: seu pai recebeu uma pequena herança e pôde, assim, pagar suas dívidas. Durante um curto espaço de tempo, Charles conseguiu se dedicar somente aos estudos, mas seu pai continuava incompetente em manter uma vida equilibrada e estável e foi preso novamente.
Apesar de tudo, conseguiu estudar trabalhando e lia muito nos seus momentos de folga. Em 1833, trabalha como repórter para um jornal londrino, emprego que não rende muito dinheiro, mas que permite circular na alta sociedade. Conhece e se apaixona por Maria Beadnell e inicia um romance que termina abruptamente com o veto do pai da moça. O detalhe é que ele era banqueiro.
Dickens começa a escrever no jornal, despretensiosamente e sob pseudônimo, pequenas histórias do dia-a-dia, crônicas, historietas, que vão, aos poucos, fazendo sucesso. O seu pseudônimo, “Boz”, fica conhecido, a tal ponto que os editores têm a idéia de fazer uma seção que junte seus textos com os desenhos de um famoso chargista de turfe. Dickens não gosta tanto da idéia, pois seus textos seriam subordinados aos desenhos, seriam comentários escritos para a estrela maior, Robert Seymour, o chargista. O trabalho mal havia começado quando o artista comete suicídio.
Diante de situação tão trágica, o caminho fica aberto para Dickens. Produz histórias, então, sobre um londrino, um intelectual que junto com uma sociedade de companheiros intelectuais, sai em busca de entender e descobrir a verdadeira Londres, se metendo em situações absurdas e engraçadas.
O sucesso é retumbante. A Inglaterra foi tomada por um escritor com um profundo senso de humor e de crítica social sem nunca perder um carinho pelos seus patéticos e atrapalhados personagens. Até hoje, ainda podemos sentir a força do perfeito senso de humor inglês dessa obra.
“As Aventuras do Sr. Pickwick”, como ficou conhecido entre nós, foi publicado entre 1836 e 1837 e marcou a popularidade de Dickens por toda a sua vida. Nunca a perdeu. Seu segundo livro foi o lacrimoso e melodramático “Oliver Twist” que saiu da sua linha leve e humorística para descrever as agruras de um menino órfão no centro londrino.
A densidade e a crítica social foram aumentando. O Dickens que escreve o autobiográfico “David Copperfield” em 1850, o pesado “A Casa Soturna”, de 1853 ou o seco e desiludido “Grandes Esperanças”, de 1861, é bem diferente do irreverente autor do “Sr. Pickwick”.
Nunca parou de escrever. Ás vezes escrevia duas ou três histórias ao mesmo tempo, editava suas próprias revistas, viajava bastante, dava palestras e conferências pelo mundo todo. Quando morreu, estava quase no final de uma novela, “O Mistério de Edwin Drood”, cujo mistério ficou, dessa forma, insolúvel.
Dickens está completamente presente entre nós. Basta lembrar o mais-que-arquiconhecido “Conto de Natal”, onde os espíritos do Passado, do Presente e do Futuro fazem com que o avarento Mr. Scrooge re-avalie sua vida e comece a fazer o bem.

“Um Conto de Duas Cidades” apareceu em 1859 e possui todos os elementos de sua literatura. O seu inicio é célebre: It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way.
(Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário. tradução da editora Nova Cultural).
Essa época é o da Revolução Francesa. As duas cidades referidas são Paris e Londres. Os personagens principais são Charles Darnay, um nobre francês, cujo verdadeiro nome é Charles Evremonde; ele esconde seu nome, pois é filho de um dos irmãos gêmeos Marqueses de Evremonde, odiados na França; Sydney Carton, advogado inglês, muito parecido fisicamente com Charles Darnay, porém com personalidade oposta; Lucie Manette, filha do Dr. Alexandre Manette, casa-se com Charles. O Sr. Manette havia sido, há algum tempo, preso injustamente por causa de acusações fajutas forjadas, alguém pode adivinhar?, pelo pai do doce e honesto Charles Darnay. Mais não pode ser dito para não estragar o prazer das sucessivas surpresas.
História mirabolante, desencontros fortuitos, paixões desenfreadas, maniqueísmo feroz, momentos melodramáticos e emocionantes, maldade absoluta, humanidade e esperança (mesmo que bem mal-tratadas). “Um Conto de Duas Cidades” é uma fábula com todos os elementos dickensianos à flor da pele.

Claudinei Vieira – Desconcertos
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