segunda-feira, novembro 26, 2007

Cassius Clay/Muhammad Ali - Norman Mailer


Cassius Clay/Muhammad Ali, o mais controverso dos campeões, era essencialmente um brilhante estrategista do ringue, um prodígio nos primeiros tempos, cuja rapidez de mãos e de pés o tornava um alvo praticamente impossível para os seus adversários. Quanta alegria no jovem Ali: na inimitável arrogância de um peso pesado que fintava os seus adversários desorientados com as suas luvas baixas na altura da cintura, convidado-os a acertar nele"
Houve um tempo em que uma disputa de título mundial dos pesos pesados era mais do que uma simples luta. Houve um tempo em que os boxeadores eram mais do que máquinas de moer de ossos, e sabiam articular frases com sujeito, verbo e predicado, todos concordando entre si. Houve um tempo em que a opressão era regra, mas se era permitido sonhar, porque era o sonho tangível, e não se encaixava num slogan bonitinho de qualquer Ong.
Até os idos de 60, o boxe era um esporte marginalizado, praticado por marginais e assistido pelos mesmos, controlado por iguais - se você se lembra do personagem de Marlon Brando em Sindicato dos Ladrões, saberá do que estou falando.
Foi neste momento que surgiu Ali, com toda sua vaidade, sua matraca histriônica, seu jeito provocador e sensual, que para muitos não passava de puro exibicionismo. E era...também. Nenhum pugilista, nem antes nem depois, foi tão bom marqueteiro de sua imagem. Nenhum ajudou tanto na construção do seu próprio mito.
A partir de Ali, o boxe passou a ser palco dos debates raciais passaram a tomar conta do debate público da fermentada consciência americana dos anos 60. O esporte passou a ser uma metáfora política da luta pela emancipação da população negra, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.
De uma hora para outra, um falastrão negro aguado se torna uma nova esperança para os anseio de todo um povo discriminado, tolhido dos seus direitos civis por séculos e séculos. Ali não era apenas um campeão, que teve seu título roubado por se negar a lutar na Guerra do Vietnã, era uma matraca ambulante e irresistível, um revolucionário a seu modo naqueles anos tão famintos por revoluções. Um líder belo e arrebatador para os negros em todo o mundo, na batalha pela sua emancipação. Como se não fosse o bastante, ele simplesmente revolucionou o modo de lutar boxe e a sua vitória sobre Foreman em 1974, quando recuperou o título, o imortalizou com o maior de todos pugilistas. Talvez se você assistir aos taipe de suas lutas, poderá achar que estou me perdendo em exageros... Ou talvez seja você que viu lutas de Tyson e Popó em demasia.



A Luta
Norman Mailer
Cia das Letras

“A luta” (The Fight) de Norman Mailer é um relato apaixonado e instigante daqueles anos conturbados. O livro trata do duelo pelo título mundial dos pesos pesados entre Ali e George Foreman, o então campeão, duelo este disputado no Zaire do ditador Mutumba, em 1974. Ali tinha passado um tempo na cadeia, haviam cassado o seu título, ele o queria de volta. Mas quase ninguém achava que ele tinha capacidade para tanto. Afinal Foreman, era uma máquina, um colosso de força e impiedade, um homem com um olhar "grande, pesado como a morte, opressivo como o bater da tampa na tumba".
Mais do que um embate de gigantes, o confronto entre Ali e Foreman, era o confronto de duas forças ideológicas. De um lado o muçulmano, controverso, paradoxal, um líder da autonomia negra. De um outro, o arrogante que vestia calções com as cores da bandeira americana e simbolizava o establishment branco e não admitia que se falasse mal do Império em sua frente.
O livro também é um relato do poder da palavra. Tão sabiamente usada por Ali, tão rejeitada por Foreman. O primeiro sabia que a palavra é poder, pois a usava, manipulava a todo instante. É sintomática a fala de Ali a Foreman, quando os dois se encontram no ringue, no prelúdio da luta: "Você ouviu falar de mim desde quando era jovem. Você tem seguido meus passos desde quando era menininho. Agora você precisa me encontrar, seu mestre". Começa aí a queda de Foreman. Começava um capítulo marcante da história do boxe, capítulo glorioso que não se repetirá tão cedo.
A Luta, não é só um livro sobre o boxe ou mesmo sobre Ali, é um livro sobre o tempo em que falar em ideologia fazia sentido. É um livro sobre um tempo em que rebeldia e indignação não estavam à venda nos shopping, a preços módicos. E que torcer por uma vitória de um boxeador, era na verdade acreditar em um sonho.
Flavio Vinicius -
Pelosta

quarta-feira, novembro 21, 2007

O livro que narra quase 100 anos da História de Cuba

A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963)
Autor: Prof. Dr. José Rodrigues Máo Júnior

Editor: Núcleo de Estudos d'O Capital

Nos últimos anos, a imprensa brasileira e os trabalhos acadêmicos não têm poupado munição para atacar intermitentemente Fidel Castro, a Revolução Cubana e suas conquistas. A informação que nos chega diariamente via jornais, televisão, revistas e teses defendidas nas universidades, sempre objetiva pintar, para Cuba, um cenário pouco pior do que o do inferno no imaginário medieval. Cada artigo que lemos pode ser tranqüilamente ilustrado com uma figura do Presidente cubano com rabo e chifres, empurrando para o fogo eterno os pobres pecadores desertados do Regime. Muito se fala sobre Cuba, muito se escreve sobre Cuba, muito se condena e se exalta Cuba, mas muito, muito poucos se dedicam a estudar a fundo a História de Cuba.
Na contramão dessa tendência, A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963), tese de Doutorado defendida no Departamento de História Econômica da USP e lançado em livro neste agosto de 2007, traz ao leitor um estudo profundo e apaixonado dos principais acontecimentos históricos que marcaram a Ilha por quase 100 anos anteriores à Revolução. Com riqueza de detalhes são narrados no livro fatos ignorados pelo grande público, tais como a Primeira e a Segunda Guerras de Independência, as constantes intervenções militares e políticas dos EUA, a contradição crescente entre a burguesia
açucareira - tão subserviente ao capital estrangeiro - e os trabalhadores cubanos – tão ávidos por liberdade.
Além da abundância de informação sobre a História da Ilha, algo difícil de se encontrar na bibliografia até hoje publicada no Brasil, outro elemento que torna o livro precioso para o leitor comum é a forma como o historiador relaciona os principais episódios históricos de Cuba com a trajetória de vários de seus heróis. Impossível não se emocionar com a tenacidade do poeta José Martí que, apesar do corpo franzino, fez questão de lutar no campo de batalha da Segunda Guerra de Independência; ou com a morte de Antonio Guiteras, assassinado após uma covarde delação; ou ainda com os sempre eloqüentes discursos de Fidel Castro e sua brava atuação frente ao grupo de guerrilheiros que até hoje encanta os jovens revolucionários de toda a América Latina.
No livro, que pode ser comparado a um verdadeiro poema épico, o herói individualizado aos poucos cede lugar ao povo cubano que, em Playa Girón e nas Brigadas deAlfabetização se transforma, como um todo, no maior e mais honrado herói de sua pátria.
Ao contrário de outras teses aprovadas pela academia, que tanto se orgulham de cultivar uma linguagem hermética, para não dizer pedante, o autor de A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963) busca o entendimento do leitor e sai vitorioso de seu intento. Com exceção do primeiro capítulo, no qual é apresentado um panorama das diferentes posições sobre a questão nacional entre os marxistas, o restante do livro é de fácil leitura para o grande público, pois possui ritmo e fluência elogiáveis.
Pela coragem de se colocar ao lado de Cuba - e não de Miami - neste momento crucial da História da Ilha, pela riqueza de detalhes, pela profundidade da pesquisa e pela linguagem elaborada, porém acessível, o livro A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868 1963), sem dúvida, é obra de leitura obrigatória para todos os que se interessem por aquela fascinante Ilha do Caribe.

Cibele Vieira Machado
Mais sobre o livro aqui

terça-feira, novembro 20, 2007

Di Cavalcanti

Repressão - Charge


Mulata com bouquet e vaso de flores

sábado, novembro 17, 2007

"Aquela Canção" apresenta contos inspirados em canções brasileiras

Doze autores brasileiros voltam-se para doze canções como fonte de sugestão para elaborar seus contos (onze contos em prosa e um conto-poema) neste "Aquela Canção - 12 Contos para 12 Músicas", da Publifolha.

Doze canções da música popular brasileira, entre elas "Corcovado", de Antonio Carlos Jobim, servem de inspiração para doze escritores, que compõem suas narrativas em contraponto com a memória das letras e melodias. Miltom Hatoum, Beatriz Bracher, Moacyr Scliar, Marçal Aquino, José Eduardo Agualusa e Luis Fernando Verissimo são alguns dos autores.
Acompanha o livro um CD da gravadora Biscoito Fino, com todas as doze canções, interpretadas por Milton Nascimento, Gilberto Gil, Miúcha, Zélia Duncan, Mônica Salmaso, Maria Bethânia e Paulinho da Viola e Marisa Monte, entre outros.
Nas palavras de Arthur Nestrovski, articulista da Folha e editor da publicação, "o acervo de letras da canção popular brasileira tem ligações características com a poesia e a prosa modernas; a literatura responde à música, incorporando o que pode, seja como assunto, seja como forma".

Confira as canções que inspiraram os contos e os intérpretes presentes no CD:

- "Anoiteceu" (Francis Hime/Vinicius de Moraes), com Milton Nascimento, inspirou "A Última Cartada", conto de Livia Garcia-Roza
- "Carinhoso" (Pixinguinha/João de Barro), com Paulinho da Viola e Marisa Monte, inspirou "Vem", de Eucanaã Ferraz.
- "Sussuarana" (Hekel Tavares/Luiz Peixoto), com Maria Bethânia e Nana Caymmi. Conto "Zezé Sussuarana", de Beatriz Bracher.
- "Juazeiro" (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), com Gilberto Gil, inspirou "Ciranda", de Paulo Rodrigues.
- "No Rancho Fundo" (Ary Barroso/Lamartine Babo), com Elizeth Cardoso e Raphael Rabello, e o conto "Duas Canções", de Moacyr Scliar.
- "Último Desejo" (Noel Rosa), interpretada por Olivia Byington, e o conto "A Exata Distância da Vulva ao Coração", de Marçal Aquino.
- "É Doce Morrer no Mar" (Dorival Caymmi/Jorge Amado), com Olivia Hime, inspira o conto de mesmo nome, de José Eduardo Agualusa.
- "Corcovado" (Antonio Carlos Jobim), com Luciana Souza, inspirou o conto "Entre Nós", de Rodrigo Lacerda.
- "Pela Luz dos Olhos Teus" (Vinicius de Moraes), com Miúcha e Daniel Jobim, e o conto "A Menina dos Olhos", de Glauco Mattoso.
- "Atrás da Porta" (Francis Hime/Chico Buarque), com Zélia Duncan, inspirou o conto "Bárbara no Inverno", de Milton Hatoum.
- "Se Meu Mundo Cair" (Zé Miguel Wisnik), com Eveline Hecker, inspira o conto de mesmo nome, escrito por Luis Fernando Verissimo.
- "Menina, Amanhã de Manhã (O Sonho Voltou)" (Tom Zé/Perna), com Mônica Salmaso, inspirou o conto "Circo Rubião", de Adriana Lisboa.

terça-feira, novembro 06, 2007

O Beijo e outras histórias, Tchekhov

O Beijo e outras histórias, Tchekhov
Editora 34

Creio que chamar os trabalhos de Anton Tchekhov de miniaturas é de uma expressão particularmente feliz, embora meio óbvia. Ao invés dos enormes painéis e da arquitetura intrincada dos romances sócio-políticos-históricos de Tolstoi ou as ferventes aventuras psicológicas de Dostoievski, Tchekov se volta para o mínimo, para o detalhe, para o prosaico cotidiano, para o momento. Não á toa o gênero onde pôde se dedicar e aprofundar esta sua propensão foi o conto, os relatos breves, onde se consegue apreender todo o conteúdo de uma narrativa ou dos pensamentos ou do caráter dos personagens através de pouquíssimas páginas, sabemos aonde vai se conduzir suas vidas depois de terminada a palavra no final. São como flashes que captam o determinado momento permitindo-nos observar seu desenvolvimento por este átimo. Miniaturas, portanto.
Sutis, sem enormes extravasamentos, os personagens e as histórias se realizando por descrições enviesadas. Em “O BEIJO”, o texto que abre este volume, por exemplo, ficamos sabendo desde o inicio que o jovem capitão Riabóvitch é tímido, fechado e, diferente dos seus colegas, nunca tivera um caso amoroso. No entanto, em uma festa por um acaso acaba recebendo um beijo de uma mulher desconhecida (ele entrara em um recinto escuro e ela pensou que fosse outra pessoa); logo que percebe o erro, ela corre. Agitado, volta ao salão e procura perceber que seria a tal dama. É aí que ficamos cientes de toda a sua plena solidão, de sua incapacidade de se socializar, de sua impenitente imaturidade.
Como Schnaiderman observa, o mestre Tchekhov gostaria de sair de suas miniaturas e se aventurar por narrativas mais longas. Seu esforço era tremendo, sentia muito mais dificuldade, dizia-se ‘mimado’ por conta de sua experiência com os contos curtos. O que o levou a escrever novelas e alguns (poucos) romances pequenos. Os resultados foram tão preciosos como os demais, forjou obras-primas tanto quanto. Nesta seleção de Boris Schnaiderman nos encontramos com algumas das jóias mais raras da literatura russa e mundial.
KASCHTANKA é uma deliciosa incursão pela vida e pelos ‘pensamentos’ e sentimentos de uma cadela que, ao se perder do seu dono, o bruto e ignorante marceneiro Luká Aleksândritch, é resgatada e passa um tempo por um tipo de amestrador de animais e lá conhece alguns ‘amigos’: um ganso cinzento, um gato e acaba até aprendendo alguns truques. Certamente, uma visão diferenciada da vida russa. Em “VIÉROTCHKA” e em “UMA CRISE” observamos de novo como ele consegue transpor a aparente simplicidade de seus temas e, a partir de um pequeno evento, revelar-nos uma imensidão psicológica que antes estaria escondida. Ao sair de uma aldeia onde vivera por alguns meses, um jovem recebe uma inesperada declaração de amor, o que o obriga a repensar sua vida até então e tomar decisões desagradáveis. No outro, um estudante ingênuo faz um périplo junto com seus colegas por entre alguns bordeis da cidade e as condições de vida e de tédio o chocam de tal maneira que acredita dever tomar alguma atitude (esta história, aliás, provocou algumas reações de escândalo na época pela sua descrição naturalista das prostitutas e do seu modo de vida, e até mesmo pela própria ousadia do tema). Da juventude para o extremo oposto, “UMA HISTÓRIA ENFADONHA” narra o cotidiano de um velho professor universitário ainda na ativa, mas que sente sua cada vez maior dificuldade de sobreviver aos dias cansativos, à falta de seus antigos amigos, da família que não o compreende, nem sentirá plenamente sua morte. Longas digressões tornam este o maior texto deste volume e, por mais que admire o trabalho tchekhoviano, devo admitir ser o que mais testa a paciência do leitor.
“ENFERMARIA N° 06” é um dos seus textos mais famosos e o que mais chamou a atenção de sua obra, desde sua publicação. As digressões, as longas conversas entre ‘loucos’ e médico, neste caso funcionam com uma maravilhosa e autêntica perfeição. Entre o que é razão e des-razão ou simplesmente loucura e onde elas se localizam a ponto de levar o especialista a ‘virar de campo’, o que sobra é uma obra magnífica, de extrema simplicidade e efeito duradouro. Impossível para nós, brasileiros, não percebermos as absolutas semelhanças entre este e o nosso também famossíssimo “O ALIENISTA’, não só pelo tema, pela narrativa, e pelo final, mas inclusive pelas idéias. Dá para sentir a ‘voz’ de Machado, por exemplo: “Tendo examinado o hospital, Andrei Iefímich chegou à conclusão de que era uma instituição imoral e altamente nociva à saúde dos habitantes. A seu ver, o que havia de mais inteligente era soltar os doentes e fechar o hospital. Compreendeu, porem, que, para isso, não bastava a sua vontade e que seria inútil; expulsando-se a impureza física e moral de uma parte, ela passa a outra; era preciso esperar que se desfizesse por si. Ademais, se as pessoas fundaram um hospital e toleravam-no em seu meio, queria dizer que estes lhes era necessário; os preconceitos e todas essas ignomínias e baixezas do cotidiano são necessários, pois, com o passar do tempo, transformam-se em algo consistente, como o esterco em húmus”. De novo, apesar do eixo deste trecho e da própria novela ser o hospital em si, pode-se perceber o quanto apreendemos da cidade que o rodeia e dos seus problemas e vícios, em algumas rápidas pinceladas.
Claudinei Vieira - Desconcertos

domingo, novembro 04, 2007

Di Cavalcanti

Carnaval

Baile popular

Di Cavalcanti

Rio de Janeiro, RJ, 1897 - 1976

"Era uma profunda e doida vida de artista a minha vida naqueles anos que precederam a Revolução de 30. Vida de artista possuído de uma grande inquietação humana dos problemas sociais."
Di Cavalcanti, 1971
Após ter permanecido por dois anos em Paris, onde entrou em contato com os principais vanguardistas europeus e com a efervescência política do momento, retornou ao Brasil em 1925, marcado definitivamente por uma temática voltada ao social.
O ano de 1928 foi um marco; foi onde Di "oficializou" a tendência afetiva que o inclinava às questões sociais:
"Abri o portão de uma velha casa de cômodos... Ali morava preto Salvador. Tinha ido à Rússia. Éramos umas quinze pessoas ouvindo: operários gráficos, carpinteiros, duas mulheres... E foi naquela noite que assinei meu nome no Partido Comunista". Di Cavalcanti.
Durante a década de 30 a obra de Di, por um lado se dedica à denúncia do Brasil da corrupção e da desordem política, e por outro, ao cortejamento dos aspectos sociais do país. A primeira vertente está representada essencialmente em seus desenhos, e a segunda, em suas pinturas.
Em 1931, participou do Salão Revolucionário da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde foram expostas obras tanto de acadêmicos como modernos. Em 1932, ao lado de Flávio de Carvalho, Antônio Gomide e Carlos Prado fundou o Clube dos Artistas Modernos, associação positivamente comprometida com as questões tangente ao homem, à arte e à sociedade. Em 1933 participa da 2 ª Exposição de Arte Moderna da SPAM. Entre 1935 e 1940 morou na Europa com sua então companheira Noêmia Mourão. Apesar da ausência no país, seu trabalho figurou no 2 º (1938) e 3 º Salão de Maio (1939).
Houve quem denunciasse o conteúdo social de suas pinturas como estático e a-político, o que de fato constitui uma grande injustiça, uma crítica que perpassa o viés anacrônico e não consegue reconhecer em Di, o que Mário Pedrosa muito bem identificou: "Sendo o mais brasileiro dos artistas, foi o primeiro a sentir que entre o interior, a roça, o sertão e a avenida, o "centro civilizado" havia uma zona de mediação -o subúrbio. No subúrbio vive o verdadeiro autóctone da grande cidade. Já não é caipira mas ainda não é cosmopolita. O que já se passa é autêntico, de origem e de sensibilidade..." Além deste conteúdo pioneiro nas artes plásticas, ainda reside em Di o lirismo de representar as classes populares através de sua dignidade e beleza e não de sua miséria.
Em 1951 participa como artista convidado da primeira Bienal de São Paulo. Participa de outras bienais, inclusive estrangeiras, ganhando medalha de ouro em 1960 na II Bienal Interamericana do México. Nesta década, Di se proclama um defensor fervoroso da figuração, tecendo críticas ferozes aos abstracionismos.
Deixou um legado, que é lírico e crítico, nas técnicas distintas. Escrevera certa vez: "Fui de esquerda, mas meu marxismo era mais um sentimento humano e emotivo do que partidário". Mas certo é que esse engajamento, ainda que no plano da idealidade, refletiu-se com riqueza no seu trabalho.

Vanessa S. Machado



Imagem - Auto retrato - Di Cavalcanti
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