sábado, fevereiro 24, 2007

Niemeyer - Universidade de Constantine - Argélia


quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Uma carta de Machado de Assis

Machado de Assis tinha 65 anos quando Carolina, sua mulher, morreu em 1904; viveria ainda quatro anos. Joaquim Nabuco, um de seus melhores amigos, era dez anos mais moço, e correspondia-se com Machado desde a adolescência.

Essa carta é uma das mais comoventes da literatura brasileira, principalmente porque estamos longe das levezas e ironias típicas de Machado. Ao mesmo tempo, o estilo da carta tem outras características que são igualmente fortes na literatura do autor. Em primeiro lugar, uma certa indulgência com o egoísmo dos outros, ou melhor, a percepção de que nossas dores só são integralmente percebidas por nós mesmos. Em segundo lugar, um estilo que funciona maravilhosamente pela omissão, pela elipse, pelo corte: às vezes, é uma palavra só que desaparece, sem que notemos exatamente qual era. Outras vezes, é o simples uso de uma partícula banal (um “me”, um “e”) que faz toda a diferença. Em vez de dizer “Fico aqui”, ou “continuo aqui”, por exemplo, Machado de Assis escreve “Aqui me fico” –e sua solidão, dentro da casa em que vivia com Carolina, ganha um tom pungente só por isso.
Nabuco tinha escrito um telegrama de condolências a Machado, e este respondera apenas com um “obrigado”. A carta veio depois.

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1904

Meu caro Nabuco,
Tão longe, e em outro meio, chegou-lhe a notícia da minha grande desgraça, e você expressou a sua simpatia por um telegrama. A única palavra com que lhe agradeci é a mesma que ora lhe mando, não sabendo outra que possa dizer tudo o que sinto e me acabrunha. Foi-se a melhor parte da minha vida e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfadonha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor; primeiro, porque não acharia a ninguém que melhor me ajudasse a morrer; segundo, porque ela deixa alguns parentes que a consolariam das saudades, e eu não tenho nenhum. Os meus são os amigos, e verdadeiramente são os melhores; mas a vida os dispersa, no espaço, nas preocupações do espírito e na própria carreira que a cada um cabe. Aqui me fico, por ora na mesma casa, no mesmo aposento, com os mesmos adornos seus. Tudo me lembra a minha meiga Carolina.
Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei muito tempo em recordá-la.
Irei vê-la, ela me esperará.
Não posso, caro amigo, responder agora à sua carta de 8 de outubro; recebi-a dias depois do falecimento de minha mulher, e você compreende que apenas posso falar deste fundo golpe.
Até outra e breve; então lhe direi o que convém ao assunto daquela carta que, pelo afeto e sinceridade, chegou à hora dos melhores remédios. Aceite este abraço do triste amigo velho

Machado de Assis

Marcelo Coelho

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Niemeyer


Auditório - Parque Ibirapuera - SP

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Impératrice de Chine


Impératrice de Chine
Pearl Buck
Le livre de Poche

Impératrice de Chine é um romance histórico que trata da vida de Tzu Hsi, uma mulher que ficou no poder, na China, por quarenta e sete anos, de 1861 até 1908, ano de sua morte. Venerada por alguns e odiada por outros.

Tzu Hsi foi escolhida, dentre inúmeras meninas manchus, como concubina para o imperador Xianfeng. Em 1856 Tzu Hsi deu à luz o único herdeiro de sexo masculino do Imperador e foi, por isso, elevada à categoria de Consorte Imperial Yi. O Imperador Xianfeng morreu em 1861, o príncipe herdeiro tinha apenas cinco anos, assim Tzu Hsi começou a reinar e só deixou a cidade proibida e o poder por um curto período, deixando os negócios de estado a cargo de seu filho. Afirmam, entretanto, que ela nunca esteve, de fato, afastada do poder, seus espiões eunucos traziam-lhe todas as informações. Seu filho, o imperador Tongzhi, morreu muito cedo, aos 19 anos e Tzu Hsi voltou a ocupar o trono. Não sem violar algumas das leis de sucessão segundo alguns historiadores. Impératrice de Chine narra a história de Tzu Hsi até pouco antes de sua morte.

A autora, Pearl S. Buck, nasceu em 1892 em Hillsboro, West Virginia. Filha de dois missionários cristãos, foi para a China quando tinha três meses de idade, os pais tinham sido enviados numa missão. Assim Pearl Buck cresceu na China, só voltou para os Estados Unidos para freqüentar o Randolph-Macon Woman’s College em Lynchburg, Virginia. Saiu-se muito bem nos estudos, mas não se sentia em casa nos Estados Unidos e preferiu voltar para a China depois de formada.
Em 1931 publicou The Good Earth, pelo qual recebeu o prêmio Pulitzer em 1932, em 1938 recebeu o prêmio Nobel de literatura. Morreu em 1973.
Leila S. Terlinchamp - Cadernos da Bélgica

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terça-feira, fevereiro 06, 2007

Oscar Niemeyer


Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro, em 1907. Considerado o mais importante arquiteto brasileiro deste século em função da quantidade e qualidade de obras construídas, iniciou sua carreira no escritório de Lucio Costa, em 1934, quando se graduou na Escola Nacional de Belas Artes.
A partir do instante em que substituiu Costa na coordenação do grupo que desenvolveu os estudos de Le Corbusier para o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, Niemeyer desempenhou o papel principal na corrente modernista que privilegiava a expressão plástica. Em 1947, o edifício-sede da Unesco, nos Estados Unidos, proporciona mais uma vez a Niemeyer a oportunidade de dividir com Le Corbusier o projeto definitivo que funde as propostas independentes de cada um dos arquitetos.
A influência corbusiana é notável nas primeiras obras de Niemeyer. Porém, pouco a pouco o arquiteto adquire sua marca: a leveza das formas curvas cria os espaços que transformam o programa arquitetural em ambientes inusitados; portanto, harmonia, graça e elegância são os adjetivos mais apropriados para o trabalho de Oscar Niemeyer. As adaptações que o arquiteto produziu conectando o vocabulário barroco ao modernismo arquitetônico possibilitaram experiências formais com volumes espetaculares, que foram concretizadas por calculistas famosos, entre eles o brasileiro Joaquim Cardoso e o italiano Pier Luigi Nervi.
A arquitetura de Brasília, prevista nos esboços com que Lucio Costa concorreu ao concurso internacional de projetos para a nova capital do Brasil, foi o impulso definitivo de Niemeyer na cena da história internacional da arquitetura contemporânea. As cúpulas côncava e convexa do Congresso Nacional e as colunas dos palácios da Alvorada, do Planalto e da Suprema Corte, configuram signos originais. Agregando-os às espetaculares formas das colunas da Catedral e dos palácios Itamaraty e da Justiça, Niemeyer encerra a perspectiva ortogonal e simétrica formada pelo ritmo repetitivo dos edifícios da Esplanada dos Ministérios.
O uso das estruturas em concreto armado em formas curvas ou em casca e as explorações inéditas das possibilidades estéticas da linha reta se traduziram em fábricas, arranha-céus, espaços para exposições, residências, teatros, templos, edifícios-sede de empresas dos setores público e privado, universidades, clubes, hospitais e equipamentos para diversos programas sociais. Desses temas sobressaem-se os seguintes trabalhos: a Obra do Berço e sua residência na Estrada das Canoas, no Rio de Janeiro; a fábrica Duchen, o edifício Copan e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo; o conjunto arquitetônico da Pampulha, com o Cassino, o Restaurante e o Templo de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte; o projeto para o Hotel de Ouro Preto (Minas Gerais), o Museu de Caracas (Venezuela), a sede do Partido Comunista (Paris), a sede da Editora Mondatori (Milão), a Universidade de Constantine (Argélia) e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Rio de Janeiro).

A presença constante de Oscar Niemeyer no cenário da arquitetura contemporânea internacional, desde 1936 até os dias atuais, o transformou em símbolo brasileiro. Recebeu inúmeros prêmios e possui vasta bibliografia, onde se destacam títulos de sua autoria e de Stamo Papadaki, além de várias edições temáticas das principais revistas de arquitetura da França e da Itália.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Five Great Short Stories


Five Great Short Stories
Anton Chekov
Dover Publications, Inc, NY


Terminei 2006 lendo Chekhov e comecei 2007 lendo Chekhov....acho que vai ser o ano dos russos. Para mim, claro. Comprei este livrinho por menos de um dólar num sebo em Seattle, há quase dois anos. Chekhov não merecia ter passado dois anos ali na estante, mas...c'est la vie. Lembro-me do momento exato em que o comprei, eu pensava que não devia comprar mais um livro porque já tinha comprado tantos e livro pesa, não é? Mas era tão pequeno e tão barato que não resisti. Não ia pesar nem no bolso e nem na mala. Ainda bem que tomei esta sábia decisão.

Anton Pavlovich Chekhov médico e escritor russo nasceu na cidade de Taganrog em 1860 e morreu de tuberculose em 1904. Era neto de um servo que comprou a sua liberdade. Sobre sua infância o autor expressa-se da seguinte maneira em uma carta ao irmão: "Filho de um servo, ... servente de loja, cantor na igreja, estudante do liceu e da Universidade, educado para a reverência de superiores e para beijos de mão, para se curvar perante os pensamentos alheios, para a gratidão por qualquer pequeno pedaço de pão, muitas vezes sovado, indo à escola sem galochas".
Este servente de loja e cantor de igreja era o pai, este que educou os filhos para a obediência e ‘reverência aos superiores.’

Quando
estava na universidade, em Moscou, Chekhov já escrevia artigos e trabalhos literários assim como anedotas para jornais, com o dinheiro que ganhava pode ajudar a família que estava com sérios problemas financeiros.

Os contos que compõem este Five Great Short Stories são The Black Monk(1894), The House with the Mezzanine, The Peasants, Gooseberries(1898) e The Lady with the Toy Dog (1899). O primeiro, The Black Monk (O monge negro), narra a história de Kovrin, um intelectual que, vitimado pela loucura, vê um monge negro, conversa com ele e nessas conversas o monge sempre enaltece a genialidade de Kovrin, convencendo-o de que ele nasceu para ser ‘grande’. Finalmente, convencido por pessoas que o amam, de que ele não está bem mentalmente, que precisa de ajuda e remédios, Kovrin aceita o tratamento, mas depois condena essas pessoas, sua mulher e o sogro, que o levaram a aceitar o tratamento. Ele não era uma pessoa comum, não podia aceitar que fosse assim e preferia viver feliz na sua megalomania do que infeliz e realista. Passa, então a tratar cruelmente a mulher e o sogro. Ele não só aceita a sua loucura como ainda justifica que esta e a genialidade estiveram sempre ligadas:
“"How fortunate Buddha, Mahomed, and Shakespeare were that their kind relations and doctors did not cure them of their ecstasy and their inspiration," said Kovrin. "If Mahomed had taken bromide for his nerves, had worked only two hours out of the twenty-four, and had drunk milk, that remarkable man would have left no more trace after him than his dog. Doctors and kind relations will succeed in stupefying mankind, in making mediocrity pass for genius and in bringing civilisation to ruin. If only you knew," Kovrin said with annoyance, "how grateful I am to you."”

The Peasants(1897) é um conto extremamente triste sobre a vida dos camponeses nesta época. Triste, mas de nenhum modo condescendente. Os camponeses não são mostrados como simples ‘coitadinhos’, mas como pessoas boas e más, calculistas, infelizes, sonhadoras ou arraigadas àquela realidade, como a personagem Fekla que gostava da pobreza, da sujeira, de usar palavras de baixo calão e odiava o filho Nikolai e sua mulher, Olga, pelo simples fato de que eles odiavam esta vida. A história começa justamente com Nikolai que era garçom em Moscou e que, doente e sem meios, volta para a sua família na esperança de um pouco de repouso. O que encontra é justamente o contrário, problemas familiares, todos os homens dependentes da vodka, a mãe a repreendê-lo o tempo todo por ter voltado para morrer ali e dar mais trabalho ainda para a sua gente. Para Olga, mulher de Nikolai, esse era um universo novo, ela tenta compreender a todos, justificar suas ações, ajudar as mulheres destes homens que se embebedam e descontam nelas, em brutalidades físicas e morais, todas as suas frustrações.
Os demais contos são igualmente interessantes. Muitos deles podem ser lidos aqui em inglês ou aqui para os felizardos que podem ler em russo.
Mais sobre Chekhov aqui.
Leila Silva Terlinchamp - Cadernos da Bélgica
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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A literatura de ficção morreu?

Muito antes de publicar o meu primeiro livro eu já ouvia dizer que o romance e o conto estavam mortos. Parece que a primeira morte teria sido anunciada ainda em 1880, não obstante, como todos sabem, Emily Dickinson, Tchekov, Proust, Joyce, Kafka, Maupassant, Henry James, o nosso Machado, Eça, Mallarmé, as Bronte, Fernando Pessoa (um pouco mais tarde) estivessem ativos naquela época.
No início do séc. XX, com o lançamento, por Henry Ford, do Ford Model T, um automóvel popular, construído numa linha de montagem, um carro barato que em poucos anos vendeu mais de quinze milhões de unidades, as Cassandras afirmaram que agora a literatura de ficção, na qual se incluía a poesia, estava mesmo com os dias contados. Dentro de pouco tempo todas as pessoas teriam automóvel e usariam o carro para passear, fazer compras, namorar em vez de ficarem em casa lendo. Ou porque não soubessem o que lhes reservava o futuro, ou lá porque fosse, o certo é que muitos escritores, como Yeats, Benavente, Galsworthy, Selma Lagerlof, Rilke, Kavafis, Edna St. Vincent Millay continuaram escrevendo, e talvez até mesmo tivessem um Model T na garagem deles.
Nova anunciação mortal veio logo em seguida, causada pelo cinema, denominado de Sétima Arte. Uma pesquisa da época mostrou que em cada 100 pessoas 80 freqüentavam o cinema e 2 (duas!) liam livros de ficção. Agora mesmo é que a literatura, enfim, havia morrido. Desta vez não tinha salvação. Mas Sinclair Lewis, Thomas Mann, Bunin, Céline, Ana Akhmatova, O'Neill, Pirandello, e muitos outros não sabiam disso. (Os dois últimos são autores de teatro, mas o teatro começou a morrer antes).
Depois nova morte foi profetizada, quando do advento da televisão. Mas William Faulkner, Eliot, Gide, Hesse, Quasimodo, Pasternak, Camus, Hemingway, Beckett, Seferis, Kawabata, Mauriac, Steinbeck e muitos mais não pararam de escrever. Que diabo, esses caras não liam os jornais? Não sabiam que a literatura de ficção havia morrido?
Afinal veio o golpe de misericórdia: o computador e a Internet. Era a pá de cal. Mas o que estava acontecendo? Quem são (ou eram) esses loucos escrevendo poesia e romance - Carlos Drummond de Andrade, Czeslaw Milosz, João Cabral, Pablo Neruda, Montale, Heinrich Böll, Saul Bellow, Isaac Bashevis Singer, Octavio Paz, Brodsky, García Márquez ("se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto"), Canetti, Günter Grass, Kenzaburo Oe, Saramago, João Ubaldo, Ferreira Gullar e um montão de outros? O que na realidade está acontecendo?
Existem muitos estudos interessantes e extensos sobre o assunto, como o da ensaísta Leila Perrone-Moisés, em seu livro Altas literaturas (Companhia das Letras, 1998). Uma coisa talvez esteja acontecendo: a literatura de ficção não acabou, o que está acabando é o leitor. Poderá vir a ocorrer este paradoxo, o leitor acaba mas não o escritor? Ou seja, a literatura de ficção e a poesia continuam existindo, mesmo que os escritores escrevam apenas para meia dúzia de gatos pingados?
Kafka escrevia para um único leitor: ele mesmo. Recordo Camões. Ele era um arruaceiro, e acabou na prisão, ou por motivos de suas rixas ou por ter se envolvido com a infanta Dona Maria, irmã do rei João III. Para obter o perdão do rei ele propôs-se a servi-lo na Índia, como soldado. Lá ficou 16 anos e, afinal, a bordo de um navio voltou para Portugal, acompanhado de uma jovem indiana, que ele amava, e a quem dedicou o lindo soneto "Alma minha gentil, que te partiste". O navio naufragou e Camões só pensou, durante o naufrágio, em uma coisa: salvar o manuscrito dos Lusíadas e dos seus poemas. Deixou a mulher amada morrer afogada (confesso que especulo), e perdeu todos os seus bens, mas salvou os seus manuscritos. Para quem ler? Estávamos no século 16 e muita pouca gente em Portugal sabia ler. Mas Camões pensou nesse punhado de leitores, era para eles que Camões escrevia, não importava quantos fossem eles.
Os leitores vão acabar? Talvez. Mas os escritores não. A síndrome de Camões vai continuar. O escritor vai resistir.

Rubem Fonseca - Portal Literal
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