sexta-feira, dezembro 29, 2006

Lasar Segall - Gado em repouso - aquarela 1930

terça-feira, dezembro 19, 2006

Lasar Segall - Retrato de Victor Brecheret

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Erotic Stories by women

Edited by Richard Glyn Jones and A. Susan Williams
Penguin books


Erotic Stories by women é uma antologia publicada pela Penguin books, organizada por Richard Glyn Jones e A. Susan Williams. Richard G. é escritor e editor, já compilou mais de vinte antologias, incluindo Killer couples - um estudo da loucura a dois. Por dez anos ele dirigiu sua pequena editora onde publicou, por exemplo, Jorge Luis Borges. A. Susan é pesquisadora da Universidade de Londres, o seu foco é a literatura produzida por mulheres, é dela a introdução a esta antologia que abarca trabalhos escritos por mulheres de diferentes países: Japão, Rússia, França, Botswana, Estados Unidos, Canadá, China, etc. O Brasil, infelizmente, não está representado por nenhuma autora.

Os Contos foram organizados de forma cronológica e vão de 1882 aos nossos dias o que reflete, segundo Susan, grande diversidade histórica e cultural. Algumas poucas histórias foram extraídas de trabalhos mais longos, mas os organizadores tomaram o cuidado de publicar textos que fossem completos, mesmo nesse caso. Como afirma a autora da introdução, uma consideração sobre o significado da palavra Erótico não poderia faltar numa antologia que tem este título. Erótico, como é sabido, vem do grego, mas, se pergunta Susan, em que extensão a palavra era usada para descrever a paixão sexual sentida pelas mulheres já que a sociedade ateniense era comandada pelos homens? Sugere que seria, inclusive, mais apropriado chamar essa sociedade de ‘androcracia’ ao invés de democracia já que o poder não emanava realmente do ‘povo’ como sugere a palavra e sim do homem. “Relegar a mulher a um papel puramente biológico era perfeitamente natural”, explica Eva Canterella.

Susan prossegue explicando que, até muito recentemente, trabalhos escritos por mulheres estavam quase ausentes das coleções de ficção erótica. O bestseller Histoire d’O (1954) de Pauline Réage, é uma exceção, foi um dos raros livros de conteúdo erótico escrito por uma mulher, porém, observa Joan Smith, a autora replicou o discurso masculino no qual o homem domina a mulher. É a história de uma moça que se torna, por escolha própria, “escrava sexual de um grupo de homens que a torturam, estupram, batem e humilham até que ela desista de toda liberdade ou vontade.” As autoras representadas nesta antologia rejeitaram estas convenções e encontraram outra forma de escrever sobre desejo, explica Susan.

A primeira história, Violette, é um episódio da novela Le roman de Violette que foi publicado anonimamente em Bruxelas em 1882, hoje sabe-se que foi escrito pela Marquesa de Mannoury D’Ectot. Violette é uma criada de dezesseis anos que foge da casa – e das garras - de seu patrão, vai procurar ajuda na casa do narrador desta história. Este, com muita ternura e respeitando a vontade de Violette, vai lhe mostrando os caminhos do prazer.

Outras escritoras francesas presentes nesta antologia são Colette, com o conto Mitsou, (1919) e Simone de Beauvoir com Marcelle (1942). É preciso entender de forma muito ampla o conceito de erótico para que se inclua nele este conto de Beauvoir que tem, isso sim, muito de engajamento feminista. Marcelle, uma mulher inteligente, procura um ‘homem de gênio’, entrega-se a um poeta que, ela imagina, seria este homem. Sofre, se anula, aceita as condições e os caprichosos do homem criador, a tudo justifica e ao ser rejeitada, descobre que não precisa mais procurar este homem, pois, em meio às lágrimas, percebe que ela sim, era ‘uma mulher de gênio’.

Algumas das autoras desta antologia são mundialmente conhecidas: Kate Chopin, Katherine Mansfield, Gertrude Stein, Isabel Allende..., outras são conhecidas somente no seu país de origem ou regionalmente. Siv Holm, escritora dinamarquesa, tornou-se famosa após a publicação de sua novela autobiográfica (em partes) I, a Woman (1965) que mais tarde foi adaptada para o cinema. É um extrato da novela que encontramos nesta antologia. Trata-se da história de uma mulher que ‘se libera da sua família e da vida numa pequena cidade. O livro chocou a sociedade na época porque mostrava uma mulher que quer – e encontra – sexo fora do casamento e sem compromisso de qualquer relacionamento durável. ’ Nesse extrato escolhido para a antologia percebemos também a reflexão da personagem sobre a escrita, o momento em que toma a decisão de comprar uma máquina de escrever, em que se pergunta sobre o que vai escrever e decide que só pode começar escrevendo sobre si, seus desejos. “É, provavelmente, o caminho mais seguro e mais honesto.”(....) “Deve ser fácil se você escrever do mesmo jeito que pensa.” Conclui.

Alifa Rifaat é uma escritora egípcia que, diz a apresentação, trabalha unicamente dentro da cultura árabe. O título do trabalho apresentado neste livro é My World of the Unknown (1971), um conto fantástico em que a personagem apaixona-se por um djinn, um espírito presente na cultura islâmica, aqui ele aparece na forma de uma serpente. É um conto delicado e impregnado de sensualidade. Outra escritora que preferiu falar de sexo de forma indireta, ou seja, através da ficção científica, foi Joanna Russ. Ela afirma que ‘É impossível escrever sobre sexo de forma direta.’ No seu conto, An Old-fashioned girl, a narradora apresenta às amigas o seu homem-robô.

Bessie Head (1937-1986)é sul africana, filha de uma escocesa e um zulu, nasceu num hospital psiquiátrico (prisão, dizem outros) para onde a sua mãe foi enviada para o resto da vida por causa da união ilícita com um negro. Bessie é a autora do conto, The collector of treasures, onde, como em muitos dos outros trabalhos da autora, o tema é a injustiça de que tantas mulheres africanas são vítimas. Dikeledi, personagem principal do conto, aceita casar-se com um homem insensível e egoísta porque não tinha outra saída, órfã, vivia na casa do tio que queria livrar-se dela. O marido a abandona com três filhos, ela trabalha duro e consegue alimenta-los e educa-los sozinha. Um dia, talvez contrariado por ver a mulher se dando bem sem ele, o marido aparece para reclamar sexo e mordomias. Uma mulher negra não tinha condições de recusar sexo ao marido, reflete Dikeledi e, fingindo aceitá-lo, prepara o seu banho, o jantar, bebidas e uma faca bem afiada com a qual arranca fora o seu membro. Um excelente conto, o erótico, aqui, acho que fica na conversa entre Dikeledi e uma vizinha que narra a sua vida sexual. Ela tem a sorte de ter um marido atencioso e, com pena da amiga que desconhece o prazer na cama, propõe-lhe que sirva-se do seu marido enquanto ela estava grávida. Dikeledi agradece a atenção, mas, sabiamente, recusa a oferta.

A japonesa Amy Yamada é famosa no seu país e relativamente conhecida nos Estados Unidos, viveu em Nova York e muitos dos seus trabalhos são traduzidos para o inglês. O universo de Kneel Down and Lick My Feet, o conto apresentado nesta antologia, é o dos clubes de sadomasoquismo. A narradora trabalha em um destes clubes e vai contando sobre o trabalho, a importância de se amarrar bem as cordas, por exemplo, e, uma das partes mais interessantes, a linguagem usada nestes lugares. “A linguagem é uma das coisas mais críticas neste tipo de jogo.” Avisa. “Você tem que falar de um modo altivo, mas é preciso também mostrar respeito e ser educada.” A narradora é uma ‘rainha’. “Nós, rainhas, somos personagens extremamente importantes, no final das contas. Nós temos que usar palavras que elevam nossas ações. Pense nelas fora de contexto e você não pode se impedir de rir.” “Escravos que exaltam cada ação da rainha chamam meu xixi de água sagrada.” É um dos melhores contos do livro, em minha opinião.

Evelyn Lau deve ser a escritora mais jovem desta antologia, ela é canadense, de família chinesa e nasceu em 1971. Decidiu cedo que queria escrever, mas a família, sobretudo a mãe queria que ela fosse médica. A exigência e pressão eram tão grandes que, com 14 anos, Evelyn deixou a casa dos pais e foi viver na rua, casa de amigos eventualmente ou ainda albergues. Para viver prostituiu-se e, durante todo o tempo manteve um diário que foi publicado com o título de Runaway: Diary of a street kid, traduzido para o português como A fugitiva - diário de uma menina de rua. O livro tornou-se um bestseller no Canadá, depois disso Evelyn já publicou outros livros e recebeu vários prêmios. Nesta antologia podemos ler o conto Fetish Night, retirado de Fresh girls, seu livro de 1993.

A vantagem de uma antologia como esta é a possibilidade de se conhecer escritoras muito diferentes umas das outras. Se, numa livraria, eu desse de cara com um livro de Alifa Rifaat, Amy Yamada etc, o nome não me chamaria a atenção, hoje eu não sairia dali sem eles.
Leila Silva Terlinchamp - Cadernos da Bélgica
Na foto: Colette, Simone de Beauvoir.

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Pedro Páramo

Pedro Páramo
Juan Rulfo

Ed.Record


Juan Preciado por primeira vez vai a Comala, terra de seu pai, Pedro Páramo, cumprindo promessa feita a sua mãe, recém-falecida, que pede vingança. Chega a uma cidade abandonada. Em sua procura, encontra pessoas, convive com elas; em seguida alguém lhe diz que estão mortas. Por fim, chega à conclusão de que estão todos mortos e talvez ele mesmo esteja morto.

Lendo esta história podemos ver por que Juan Rulfo, apesar de sua pequena obra – escreveu apenas dois livros -, é considerado um dos maiores escritores de língua hispana: no romance de aproximadamente 170 páginas o autor consegue um resultado impressionante - depois do início relativamente convencional, a narrativa se torna complexa, misturando-se as vozes dos vivos às dos mortos; narradores alternam-se em primeira, segunda e terceira pessoa; tudo isso envolto na névoa do tempo, que avança e retrocede, como se na cidade deserta alguém gritasse despertando ecos, distorcendo o tempo, fazendo-o ressoar como cordas no espaço.

É nesse clima onírico, pleno de névoas, que Rulfo conduz o seu leitor com maestria. Há um casamento perfeito entre forma e conteúdo. E a história vai se formando como um quebra-cabeça, ou melhor, como um desenho em terceira dimensão, daqueles que exigem fixar a visão de um determinado modo por um certo tempo até que os olhos consigam ver.

Umberto Krenak - Blog do Conto

domingo, dezembro 10, 2006

Lasar Segall - O bebedouro - aquarela

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Os homens são necessários?

Maureen Dowd é uma famosa colunista do The New York Times, recebeu um prêmio Pulitzer pela cobertura do caso Clinton-Lewinski em 2004, publicou Bushworld: Enter at Your Own Risk, depois disso veio seu livro de ensaios, Are Men Necessary?, que provocou muito falatório nos Estados Unidos na época em que foi lançado. Eu não o li, só algumas partes aqui e ali na internet. Vi que este seu livro foi traduzido e publicado pela editora Nova Fronteira, o título é o mesmo que em inglês, Os homens são necessários? Na página da Nova Fronteira é possível ler o primeiro capítulo, é uma prosa divertida.

Eis a sinopse da página da Nova Fronteira:

“Apesar do espaço que as mulheres conquistaram no mercado de trabalho, elas ainda parecem se comportar como os homens querem. Sem medo da reação que podem causar essas e outras opiniões polêmicas, a colunista de política no New York Times Maureen Dowd trata dos rumos atuais da chamada guerra dos sexos no livro Os homens são necessários? Quando os sexos entram em choque, lançado pela Editora Nova Fronteira. A influente jornalista, vencedora do prêmio Pulitzer pela cobertura do impeachment do presidente Bill Clinton, trata do retorno aos hábitos femininos dos anos 1950 e de como o mundo masculino incorporou as artimanhas do sexo oposto para manter o poder.”

Num dos ensaios Maureen escreve:
“Nos anos 50 as mulheres passavam o aspirador. Hoje, elas são aspiradas. Os nossos aspiradores de pó voltaram-se contra nós.” (.....) “É o feminismo vencido pelo narcisismo.” Uma crítica à obsessão moderna pela aparência. Lembrei-me de uma revista besta que folheei outro dia na cabeleireira, mostrava a Sônia Braga toda refeita, linda mesmo, mas ri muito quando ela afirmava que o importante mesmo é o ‘ interior da pessoa’, a alma ou sei lá que baboseira. Well, é melhor ficar calada, não?

Alguns acharam o livro de Maureen muito exagerado, outros acharam que ela está querendo espezinhar ou que está repleto de anedotas. O interessante e inesperado é que muitas mulheres reagiram negativamente ao seu livro e enviaram muitas cartas à redação do The New York Times , a própria Maureen se disse surpresa com isso. Apesar das minhas observações o livro ainda não está na minha estante esperando na fila. Só fiquei curiosa depois de ler no jornal uma nota sobre ele. Se um dia desses eu me animar, volto com uma resenha.
Mais sobre Maureen Dowd aqui.
Leila Silva Terlinchamp - Cadernos da Bélgica

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terça-feira, dezembro 05, 2006

Retrato do artista quando velho

Retrato do artista quando velho
Joseph Heller

Cosac & Naify

Eugene Pota, personagem-narrador-objeto do último romance de Joseph Heller, é um escritor cujos livros, embora intelectualmente densos, sempre venderam bem. Respeitado, convidado constante para dar palestras, qualquer nova obra tem publicação certa. Aos 73 anos, não possui problemas financeiros e seu casamento com a terceira mulher é estável, apesar de viver dando em cima das "mocinhas" de 40, 45 anos. Está passando, porém, pelo terror de todo escritor, ou mesmo de qualquer pessoa que alguma vez tentou colocar um pensamento no papel: a falta de inspiração. No ocaso da vida, sua vontade é de escrever uma obra-prima que tivesse o mesmo sucesso retumbante de suas primeiras obras e, quem sabe, até fosse vendida para Hollywood. No entanto, nenhuma idéia decente aparece; nada que o faça retomar o antigo entusiasmo. Como escrever algo que já não tenha sido dito, e melhor, por outras pessoas de talento, inclusive ele próprio? Em desespero, se volta para obras consagradas e começa a parodiá-las. Tenta uma versão atualizada da "Metamorfose", de Kafka, desta vez na Manhattan do final do século XX. Joga-a fora. Vira-se para a Bíblia e tenta imaginar como seria o relacionamento entre Deus e sua Mulher. Mas isso acabaria em uma outra variação irônica da Criação, de Adão, de Eva. Quantos já não fizeram isso? As infidelidades de Zeus contadas por sua mulher, Hera. A vida de Tom Sawyer adulto. O sacrifício de Isaac, do ponto de vista de Isaac. Nada. Nada. A única idéia que lhe parece interessante e que consegue arrancar um saudável sorriso irônico das pessoas ao seu redor, quando anunciada, seria um romance com o título "Uma Biografia Sexual de Minha Mulher". Mas ele nunca consegue avançar além do título.
"Retrato do Artista Quando Velho" foi escrito por Heller aos 76 anos, pouco antes de morrer. Ele não viu a obra ser publicada. É, pois, um inquietante e incômodo relato fictício/autobiográfico. A estranheza vem do fato de que Heller não poupa a ironia pesada e o sarcasmo ao se retratar, ao comentar suas idiossincrasias e manias de velho, suas incertezas de escritor, as dúvidas sobre a qualidade de sua obra, suas infidelidades amorosas, que só não são efetivadas pela sua decadência física. Ao contrário do seu alter-ego Eugene Pota, no entanto, Heller tem a escrita bem firme e esbanja talento, humor (mesmo que cáustico e, no mais das vezes, bem melancólico), e elegância de estilo. Na verdade, os trechos 'escritos' por Eugene do diário de Hera são muito engraçados e a versão de Kafka merece figurar em qualquer antologia. Com a ironia já começando pelo próprio título, uma referência direta do clássico "Retrato do Artista Quando Jovem", de James Joyce, e mesmo o nome do personagem, Pota, é derivada dessa brincadeira (Portrait Of The Artist).
Joseph Heller é considerado um dos mais importantes escritores norte-americanos do século XX. Nascido em 1923, escreveu vários contos e artigos de prestígio, quando lançou no começo da década de 60 uma novela que o consagrou mundialmente, tanto pela crítica quanto pelo público: "Ardil 22", uma sátira arrasadora da Segunda Guerra Mundial, utilizando sua própria experiência como aviador. Esse livro foi filmado na década de 70, também com bastante repercussão. "Ardil 22" penetrou tão fundo na consciência norte-americana que se tornou um dos símbolos máximos do movimento antibélico e foi tomado como estandarte pelos militantes contrários à guerra do Vietnã. E, segundo o jornalista e escritor Marcelo Barbão, "Catch 22" até virou uma expressão popular, significando uma situação onde não há vencedores.
Heller nunca deixou de escrever, até morrer de infarto em 1999. Sua obra inclui vários outros romances, contos, ensaios, peças de teatro, artigos. Sendo assim, seu último livro se torna, portanto, o seu testamento literário, um auto-ajuste de contas, uma lavagem de roupa suja consigo mesmo, refletindo suas preocupações sobre a vida, o peso da idade, a literatura, fracasso pessoal, a busca por um sentido para sua existência.
Em uma entrevista para Barbara Gelb em 1994, pode-se perceber como isso estava presente em sua mente. Em um determinado momento, ele diz como ficou impressionado ao constatar o quanto a profissão de escritor havia levado tanta gente ao desespero existencial, desembocando no alcoolismo, depressão, suicídio.
Quando Gelb pergunta se ele estava indo pelo mesmo caminho, responde, enfaticamente: "Não... ainda. Eu estou indo muito bem, emocionalmente. Ou, pelo menos, acho que sim".
Isso acabou se refletindo em algumas das páginas mais impressionantes de "Retrato...". O jovem Tom Sawyer cresceu e agora quer se tornar um escritor. Vai em busca de conselho. Naturalmente, tenta se encontrar com a pessoa que se tornou famosa as suas custas, Samuel Clemens, mais conhecido como Mark Twain. Ao chegar ao seu endereço, no entanto, constata que Twain está percorrendo o país com palestras pagas para conseguir cobrir as vultosas dívidas contraídas com suas aventuras comerciais. Mais tarde, fica sabendo de suas tragédias pessoais, a morte da esposa depois de uma grave doença, a morte da filha afogada em uma banheira ao ter um ataque epiléptico, o próprio fim melancólico.
Tom Sawyer tenta falar, então, com o lendário Jack London, o protótipo do self-made man norte-americano, criador de obras imortais como "Caninos Brancos", "O Chamado Selvagem", exemplo do homem que ficou milionário com literatura. Ele, porém, estava viajando pelo Havaí. E se suicidaria ao voltar. Sawyer acaba indo para Inglaterra encontrar Stephen Crane, autor de "O Emblema Rubro da Coragem", mas este morrera na Alemanha, de tuberculose, carregado de dívidas, aos 28 anos. Dos ingleses, Henry James vivia recluso e deprimido pelo desprezo da crítica por suas últimas obras, como "Os Embaixadores", "O Cálice de Ouro" (que só seriam reconhecidas como obras-primas depois de sua morte) e invejoso do sucesso da norte-americana Edith Wharton (que, apesar disso, era explorada por um marido alcoólatra que roubava seu dinheiro). E mais: Bret Harte, Joseph Conrad, todos com histórias trágicas.
Sawyer, horrorizado, desiste de ser escritor e volta para junto de sua tia Polly, decidido a se tornar ferroviário.
Eugene Pota/Joseph Heller chama a isso de Literatura do Desespero.
Heller nos conduz aonde e como quer, com absoluta precisão. Da comédia desbragada ao drama, da celebração da vida à melancolia do cotidiano. É uma lição de pura literatura.

Claudinei Vieira - Desconcertos

Com esse texto interessantíssimo Claudinei Vieira faz sua “entrada oficial” no Rosebud Livros. Um de nossos maiores incentivadores, agora colaborador comprometido. Grande beijo, Claudinei.
Vera do Val

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Lasar Segall


Nasce a 21 de julho de 1981, na comunidade judaica de Vilna, capital da Lituânia, na época sob domínio da Rússia czarista.
Em Vilna, cursa a Academia de Desenho, e posteriormente ingressa na Imperial Academia Superior de Belas Artes de Berlim, mas acaba transferir-se para Dresden, onde freqüenta a Academia de Belas Artes.
Em 1912 vem ao Brasil, onde encontra os irmãos Oscar, Jacob e Luba. Em março de 1913, faz uma exposição individual num salão alugado à Rua São Bento, 85, São Paulo. Em junho, exposição individual no Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas.No final do ano, regressa à Europa, deixando várias obras em coleções brasileiras.
Em dezembro de 1923, muda-se para o Brasil e acaba por tornar-se um dos mais importantes artistas brasileiros.
Depois de inúmeras exposições entre Brasil e Europa vem a falecer em 1957 Na ciadade de São Paulo. Em 1967 é criado o Museu Lasar Segall, em sua antiga residência da Rua Afonso Celso.
Vera do Val - Rose Rose Rosebud
Imagem - aquarela Segall - Família - 1922

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A Presidência Lula - Passos e Tropeços

Lula - A presidência - Passos e Tropeços
Lincoln de Abreu Penna


Imprimatur

Leveza da escrita e estilo elegante associados à tomadas de posições corajosas e a conteúdo perenemente crítico são qualidades raras e sempre reunidas nos textos do historiador Lincoln de Abreu Penna. O livro que acabo de ler, intitulado Lula - A presidência - Passos e tropeços, não se constitui numa exceção, e sim na confirmação das citadas qualidades de seu autor; qualidades que tipificam a sua já quantitativa e qualitativa produção. O livro foi composto com um conjunto de artigos que foram escritos no calor da hora e que vão formando um painel que põe a desnudo o caráter simplista das explicações dominantes em voga.
O que no substancial diferencia o livro sobre o governo Lula escrito por Lincoln, da maior parte dos outros que sobre o assunto foram ou vem sendo publicados é o método que informa a sua elaboração. Método que implica em não escamotear que a sociedade capitalista está cindida em classes sociais, mas ao contrário, pela introdução desta variável pensar as relações políticas não como um mero jogo de fofocas, “modernidades neoliberais”, e complôs palacianos, coisa tão ao gosto da grande imprensa, mas alicerçadas, em última instância, nos chamados interesses materiais. É com base nesses princípios metodológicos que o autor faz um estudo objetivo do governo Lula, ou seja: análise concreta de uma situação concreta.
Quando falamos em estudo objetivo não estamos querendo fazer de “objetividade” sinônimo de neutralidade. O texto de Lincoln não é neutro, ao contrário, é marcado pela paixão pelo nacional e de preocupações pelo destino dos homens pobres de nossa terra, sejam vendedores de força de trabalho, bóias-frias, membros do exército industrial da reserva ou de toda uma gama de brasileiros que, excluídos e sem destino, vagueiam nas cidades e nos mais recônditos lugarejos de nossa hinterlândia.
Concernente com o dito, na medida que se avança na leitura do livro a linguagem vai mudando de tom, começa esperançosa e com o desenrolar dos acontecimentos a indignação do autor vai surgindo e crescendo. Pode-se considerar que na avaliação de Lincoln, o presidente Lula, como se fora um malabarista circense, procura equilibrar-se – na medida em que isso é possível - entre as duas oposições que o cercam: uma de direita e a outra de esquerda. A primeira cobra com fúria o apoio eleitoral que lhe deu, exigindo a obtenção de seguidos privilégios espoliativos, no sentido de arrombar mais e mais os magríssimos bolsos dos trabalhadores. A segunda, cobra do presidente coerência com as bandeiras históricas do petismo.
A questão democrática é uma das pedras angulares do livro, que está repleto de oportunos questionamentos a respeito. Sempre defendendo o Estado Democrático de Direito, Lincoln constantemente argumenta em favor da democracia social, “da democracia de massas, socialmente justa e distributiva” (p. 46).
Juntamente com a problematização da democracia, a trilogia desigualdade, violência e corrupção dão as diretrizes da temática tratada. Em decorrência, um conjunto de questões vai surgindo, envolvendo: ética e corporativismo, a confraria, o mensalão, o caixa 2, as CPIs, o vale tudo eleitoral, a relação representantes e representados, e muitas outras.
Em suma, A presidência Lula passos e tropeços é um livro inquietante e oportuno, de leitura obrigatória para todos os que queiram ter um fecundo manancial para refletir sobre a realidade política brasileira na primeira década do novo milênio.

Aluízio Alves Filho – Revista Achegas
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